February 12, 2021

Uma semelhança da operação crítica em Badiou e Arantes?

Curioso que Badiou escreve sobre o fascismo de batata nos anos 70. Mesma época que o Arantes começa a criticar certos elementos da tradição francesa. Claro, dá pra reduzir isso a um marxismo dogmático”, mas aí melhor nem ler os textos pra não se decepcionar.

E acho que é interessante que isso não passa sem um aproveitamento das ferramentas que foram gestadas nesse museu”, porque a questão não é sobre isso. Tanto Arantes (hiper-foucaultiano recentemente) e Badiou (que dialoga d+ com Deleuze) não descartam o que se elaborou ali.

Nessas horas estudar Platão dá uma boa distância, pois é inevitável que sendo um dos pensamentos mais potentes é também das fontes de inúmeras legitimações (basta ver a visita ao museu ideológico helênico pelo Karatani no Isonomia).

Acho meio bad vibes que um livro [Formação e desconstrução] que é infelizmente apenas uma recolha de artigos do final dos 80 e início dos anos 90 só consiga ser recebido como ai esse cara chato tá atacando nossos autores!!”. Acho bad vibes pois não se precisa ler, claro. Mas fecham-se de antemão vias.

February 11, 2021

Comentário breve sobre a antifilosofia de Paulo Arantes

Infelizmente o Paulinho está me forçando a voltar com a ideia de reler suas discussões meta-filosóficas (Ressentimento da dialética; Um departamento francês ultramar e agora esse) para organizar pra mim mesmo o que acho que é a sua grande contribuição como filósofo.

Melhor que as análises de conjuntura do Paulo Arantes (que inclusive incorporam demais leituras francesas, como Foucault — o que indica que a questão dele com o pensamento francês é outra) é a análise da experiência intelectual da prática filosófica.

Inclusive eu acho que a grande conquista dele (pelo menos pra mim, e sobretudo quando li o Fio da Meada, que me impactou demais), é deixar muito claro um certo elemento ridículo na atividade filosófica quando reduzida a mera disputa de sistemas metafísicos” divergentes.

O negócio é que eu acho que o tipo de leitura que ele faz, ainda que você possa traçar aqui e ali umas referências me parece muito sui generis. Foi com ele que eu comecei a pensar a ideia de antifilosofia, embora eu acho que esteja subdeterminado.

February 9, 2021

O desejo de filosofia vulgar (de tom deleuziano)

Eu fico impressionado quando eu descubro esse submundo de pessoas que fazem uma carreira de ficar fazendo cursos livres que são basicamente um rodízio entre certas referências de Deleuze (Espinosa, Nietzsche, Bergson e quando muito Foucault). E é sempre a mesma VÁIBE.

Se for pra ir pras piras deleuzianas (que eu gosto bastante, embora esteja um pouco afastado no momento), eu prefiro alguém que efetivamente tenta engajar esses autores em problemas de modo preciso e não estetizante, como o André Araújo.

Uma coisa que eu acho que porém é importante. Claramente isso toca as pessoas, isso diz algo pra elas. Acho que ainda que seja de uma forma até meio boba a imagem apresentada, eu não acho que isso deve ser jogado fora absolutamente. A filosofia só faz sentido quando ela diz algo.

Então por um lado eu fico meio abismado com o fato de que isso faz sucesso. Por outro lado acho que tem algo a se compreender aí. Acho que tem uma demanda e um desejo por filosofia que a gente sabe lidar mal (a menos que você se chame Contrapoints).

O problema da vida verdadeira, da vida que deve ser vivida, da boa vida, de como se situar; tudo isso acho que ao menos esses cursos põe na hora de se endereçar aos seus participantes. Ainda que seja de forma tosca e auto-ajuda, o problema pra mim é mais que é dogmático no fim.

Acho que em alguma medida o sucesso de certos olavismos tá aí também. Uma certa capacidade de ao menos ressoar (ainda que de forma bem problemática) com certas demandas e desejos que não encontram outros pontos de concretização.

February 7, 2021

O estranhamento histórico progressivo da linguagem filosófica

Uma coisa que eu tenho pensado mas caberia investigar melhor, é que sinto que tem um ponto em que a linguagem filosófica passa a ser estranhadas de nós mesmos, começam a explorar um nível de abstração que se afastam de uma inteligibilização ampla em nome da precisão.

[claro, me referindo ao que mais ou menos se identifica como tradição ocidental” — ignoro aqui como ou se esse movimento se dá em outras tradições]

Isso é uma impressão de quem tem um conhecimento de amplitude da história limitado, claro. Mas tenho a impressão que no início da modernidade (Descartes, Espinosa) as coisas ainda são em nossos termos”. Com Kant (mas não quer dizer que começou ali) começa a ficar estranha.

Mesmo que a coisa seja difícil, que seja complexa, parece que aos poucos vai se formando uma linguagem que não é imediatamente tradutível em uma linguagem cotidiana. Tou pensando — de maneira imprecisa — em como na física da newtoniana pra física quântica, tem uma distância.

Eu acho que se tem dificuldade em localizar os problemas. Como se o nível de traduções tivesse que se multiplicar. Claro, pode também ser simplesmente a minha dificuldade em entender e me localizar em certas conversas, de identificar o que é relevante, o que está se discutindo.

February 5, 2021

O ponto de partida da filosofia socrática

Pensando aqui que se fo levar a sério o socratismo enquanto procedimento em direção ao verdeiro (o que não significa um universal homogenizante”) o ponto de partida deve ser irrelevante. Qualquer autor, qualquer posição é o suficiente para dar partida na investigação.

Tem uma consequência possível disso que é: se qualquer ponto de partida é válido e se o verdadeiro não é pensado como um ponto de chegada que dissolve todas as diferenças, então multiplicar os pontos de partida e os paradigmas a partir do qual procedemos amplia o pensável.

February 3, 2021

A vulgaridade datada de Barthes

Esses dias eu tava pensando no Barthes. Gostava muito de ler ele ao longo da graduação (inclusive escrevi uma monografia péssima sobre ele), mas sinto que hoje que apesar de lido ele é um pouco esquecido, ignorado? Claro que vejo gente lendo, mas raramente vejo ele sendo usado”.

A impressão que eu tenho é que por um lado o Barthes nunca esteve jogando o jogo que dominou no pensamento francês. Nunca também tentou dar conta das coisas em termos de adequação. Parece que eram sempre uns experimentos, umas improvisações impressionísticas.

O problema é que diferente de outros pensadores vulgares, como Flusser, parece que os temas do Barthes são temas de um mundo já passado. Um Flusser ainda pode ser tomado como profeta de um mundo por vir. O Barthes fica parecendo apenas um retrato de algo que não existe mais.

A destecnicização da filosofia


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