January 19, 2021

O sujeito da guerra híbrida

O que eu acho que confunde nessas horas de falar de guerra híbrida ou de inteligência dos militares é pensar que o sujeito dessa guerra híbrida é algum militar ou algum conselho de militares. Acho que o problema é que quem é o sujeito inteligente (quem age) é a organização.

Claro, não tou falando se eles de fato fazem guerra híbrida ou não (deixo isso para os militarólogos), mas acho que é importante separar os níveis” de inteligência. Não é preciso ter indivíduos inteligentes num corpo social para que este seja por si inteligente (tipo um estado).

Acho que um dos fios de questão que me interessa é: pensar a inteligência/percepção/ponto-de-vista não como uma instância fixa, mas como uma instância que é determinada pelo que é relevante em determinada situação.

Acho que a gente poderia pegar a fórmula icônica do perspectivismo e pensar que se você não entende o que está acontecendo, não é pela situação não fazer sentido (sobretudo se a destruição segue operando), mas por você não ser o sujeito [perspectiva] da operação.

Eu acho que a gente não tem uma gramática pra transitar entre esses ambientes de modo simples, embora eu ache que alguém como o Espinosa em sua Ética começa a fornecer algo nessa ordem: sobretudo se misturamos a física dos corpos junto com sua teoria do conhecimento (livro II).

January 12, 2021

Sobre os termos ocidente”/“ocidental”

Eu tenho o sonho de um dia pesquisar e escrever algo sobre os usos do termo ocidente”/“ocidental” na filosofia.

Eu tendo a achar que é mais uma categoria normativa (?) do que propriamente descritiva. Mais uma tentativa de síntese a partir de certos valores, impondo uma unidade de fora para dentro do que um conceito que efetivamente reúne e explica algo.

Acho que isso vale tanto para conservadores (reivindicando o ocidente) como para pós-modernosos (critivando o ocidente). Pois no fim das contas nada de fato consegue ser circunscrito nessas categorias sem que muita coisa tenha que ser deixado de lado ou ignorado.

Confesso que eu culpo (ao menos entre os pós-modernosos) o Derrida por isso, por falar sem o menor lastro sobre o ocidente (na esteira de um heideggerianismo importado que também faz essas hiper sínteses?).

Por isso que eu fico: ok, qual o valor dele? Uma mera demarcação entre bom ou mau? Me parece que seu aspecto de (pseudo-)conceito tem mais essa finalidade do que descrever qualquer conjunto de relações reais. O problema é que é tão vago que pode ser usado pra qualquer coisa.

Ocidental é sempre aquele aspecto que ou eu quero preservar contra uma suposta degeneração (vulgata conservadora) ou aquilo que quero criticar em nome de outras possibilidades (vulgata pós-modernosa).

O problema é que geralmente o elemento empírico destacado na maior parte das vezes pode ser encontrado em ambos os lados dessa demarcação. Seja algo bom, seja algo ruim, raramente se consegue apontar com essa linha algo de fato que seja exclusivamente ocidental.

January 12, 2021

Sobre o termo ocidente”

Eu tenho o sonho de um dia pesquisar e escrever algo sobre os usos do termo ocidente”/“ocidental” na filosofia.

Eu tendo a achar que é mais uma categoria normativa (?) do que propriamente descritiva. Mais uma tentativa de síntese a partir de certos valores, impondo uma unidade de fora para dentro do que um conceito que efetivamente reúne e explica algo.

Acho que isso vale tanto para conservadores (reivindicando o ocidente) como para pós-modernosos (critivando o ocidente). Pois no fim das contas nada de fato consegue ser circunscrito nessas categorias sem que muita coisa tenha que ser deixado de lado ou ignorado.

Confesso que eu culpo (ao menos entre os pós-modernosos) o Derrida por isso, por falar sem o menor lastro sobre o ocidente (na esteira de um heideggerianismo importado que também faz essas hiper sínteses?).

Por isso que eu fico: ok, qual o valor dele? Uma mera demarcação entre bom ou mau? Me parece que seu aspecto de (pseudo-)conceito tem mais essa finalidade do que descrever qualquer conjunto de relações reais. O problema é que é tão vago que pode ser usado pra qualquer coisa.

Ocidental é sempre aquele aspecto que ou eu quero preservar contra uma suposta degeneração (vulgata conservadora) ou aquilo que quero criticar em nome de outras possibilidades (vulgata pós-modernosa).

O problema é que geralmente o elemento empírico destacado na maior parte das vezes pode ser encontrado em ambos os lados dessa demarcação. Seja algo bom, seja algo ruim, raramente se consegue apontar com essa linha algo de fato que seja exclusivamente ocidental.

January 12, 2021

Sobre o termo ocidente”

Eu tenho o sonho de um dia pesquisar e escrever algo sobre os usos do termo ocidente”/“ocidental” na filosofia.

Eu tendo a achar que é mais uma categoria normativa (?) do que propriamente descritiva. Mais uma tentativa de síntese a partir de certos valores, impondo uma unidade de fora para dentro do que um conceito que efetivamente reúne e explica algo.

Acho que isso vale tanto para conservadores (reivindicando o ocidente) como para pós-modernosos (critivando o ocidente). Pois no fim das contas nada de fato consegue ser circunscrito nessas categorias sem que muita coisa tenha que ser deixado de lado ou ignorado.

Confesso que eu culpo (ao menos entre os pós-modernosos) o Derrida por isso, por falar sem o menor lastro sobre o ocidente (na esteira de um heideggerianismo importado que também faz essas hiper sínteses?).

Por isso que eu fico: ok, qual o valor dele? Uma mera demarcação entre bom ou mau? Me parece que seu aspecto de (pseudo-)conceito tem mais essa finalidade do que descrever qualquer conjunto de relações reais. O problema é que é tão vago que pode ser usado pra qualquer coisa.

Ocidental é sempre aquele aspecto que ou eu quero preservar contra uma suposta degeneração (vulgata conservadora) ou aquilo que quero criticar em nome de outras possibilidades (vulgata pós-modernosa).

O problema é que geralmente o elemento empírico destacado na maior parte das vezes pode ser encontrado em ambos os lados dessa demarcação. Seja algo bom, seja algo ruim, raramente se consegue apontar com essa linha algo de fato que seja exclusivamente ocidental.

January 7, 2021

Más leituras na filosofia

Quando a gente aceita que existem más leituras na história da filosofia (inadequadas, factualmente problemáticas) e ainda assim elas não são necessariamente ruins a gente fica meio sem chão pois precisa conseguir explicar então que uma leitura pode ser produtiva sendo errada.

O difícil nessa situação é que se perde um critério facilmente identificável e essa ausência de critério é as vezes mobilizada de modo perverso pra perpetuar leituras problemáticas ou até para proteger desnecessariamente certas leituras produtivas mas com limitações.

As leituras que o Nietzsche faz são bem erradas em termos de adequação e ainda assim eu fico com a impressão que ele acerta algo. A mesma coisa do Deleuze quando critica Platão ou Hegel. Esses autores me forçam a repensar o que é que está em jogo quando se faz críticas.

Pois por um lado eu acho que é ruim quando essas leituras erradas” são mobilizadas para bloquear eventuais leituras, como nas críticas de Deleuze a um Hegel (suas ou de outros — o que é diferente de dizer que se é obrigado a ler tudo, dá pra ser indiferente).

Por outro lado acho que — para além da discussão que o alvo as vezes é uma certa recepção, como no caso de Deleuze com Hegel — acho que muitas vezes o retrato errado ajuda a contrastar melhor as posições positivas de um autor. Aí então seria questão de não comprar totalmente.

January 6, 2021

O problema da referência na construção de uma gramática comum

Tenho pensado nesses dias sobre a quantidade de referências e enquadramentos disponíveis e a impossibilidade de dar conta de todos os campos. Se isso é a situação, então me parece absurdo exigir que as pessoas leiam x ou y para poderem conversar (supondo uma boa fé nas pessoas).

Quando falo de boa fé, quero deixar claro que não falo de situações em que o que é objeto de debate é justamente o enquadramento x ou y ou quando se quer falar de algo sem sem nem conhecer nada relacionado ao trma. Tou falando em conversas em que os quadros são auxiliares.

Ou seja, falo das situações em que mobilizamos ideias e/ou conceitos e/ou valores para conseguir se aproximar de um objeto qualquer e conseguir falar sobre ele com alguém que possivelmente (provavelmente) não domina e não apela para as referências que constroem nosso pensamento.

Nessas circunstâncias, qualquer demanda de conhecimento de mais um vocabulário, de mais um conjunto de jargões parece ser extremamente improdutivo. Parece apenas ser uma forma de botar pra escanteio qualquer conversa a partir da necessidade de uma referência contingente.

Claro que há situações que é preciso conhecer uma ou outra referência, mas dado como as coisas se organizam, como há uma certa finitude e como se observa facilmente pessoas fazendo coisas boas e convergentes com referências supostamente inconciliáveis, me parece pedir demais.

O tempo gasto deveria ser antes na construção de uma linguagem comum do que num suposto elencamento de trabalhos hercúleos que devem ser percorridos até um interlocutor está no níve do outro. Na verdade isso me parece insano, ainda mais que na maior parte das vezes é unilateral.

E comum não falo de qualquer estrutura genérica, qualquer imagem boba de uma racionalidade supostamente total. Falo de um comum entre quem está envolvido, num esforço que costuma ser dialógico (com quem está envolvido na conversa ou com o público a que se dirige a comunicação).

Enfim, claro que é massa conhecer coisas novas sempre, refinar e ampliar as referências. Mas me parece que se a ampliação das referências é feito à força (isto é, sem demandas concretas do problema ou sem que seja a única forma de conversar com seu interlocutor) isso é ruim.

Acho que na verdade até denota um sinal de que se está preso demais ao quadro referencial em questão. Talvez seja um argumento tosco (e é), mas confesso que duvido que tenham certos temas que possam ser trabalhados apenas a partir do filósofo x ou y.

Não ser capaz de dar um passo para trás denota que então se está mais preso ao autor do que propriamente aos problemas. E pode até ser que isso seja sua onda, mas se a conversa só se pode se dar nesses termos então acho difícil que haja conversa.

Inclusive sinto que é nessas conversas em que ambas as partes procuram sair de seus quadros habituais para tentar se entender que ocorrem estímulos para se envolver com outros quadros referenciais que podem ajudar a ampliar sua capacidade de se situar diante de problemas.


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