Sobre falas carregadas
Uma forma de avaliar ideias (minhas, nossas) para mim é ver o que acontece quando elas aparecem na boca de gente que não está comprometida (mas sem que falte com seriedade) com o mesmo percurso e a mesma densidade com que abordamos certos problemas. Elas capotam ou se sustentam?
Pensando isso enquanto leio o Cavell, pois evidentemente a quantidade de discussões que ele carrega e traz para jogo que eu não sou familiarizado não é pouca coisa. Mas fico pensando, se conseguir dar consequência àquilo sem perdas (ou com o mínimo possível) não é sinal de força.
Falei força, mas quis dizer verdade. Na medida em que somos capazes de dar consequência a uma ideia (extrair implicações, aumentar o espaço do dizível, da nuance, do sentido), mesmo que não estejamos cientes de seus antecedentes, talvez haja algo de verdadeiro no que articulamos.
Por outro lado, me pergunto sobre o inverso disso. Quando você precisa sempre “carregar” o dito de condições, de detalhes, de contextualizações… Não sou contra esses gestos, mas me parece que esse tipo de precisão é muitas vezes uma desculpa para travar consequências.
“Não dá para estudar Platão sem conhecer grego, não é possível entender o que é um diálogo sem se situar nas discussões retóricas da época, não se pode avaliar os progressos conceituais sem uma comparação com reflexões pré-socráticas anteriores, etc.”
Parece um espírito censor.
Precisão, detalhes, é muito importante, acho, para situar aquilo que pensamos. Eu mesmo acho que tenho uma forma de encadear ideias que é infinitamente digressiva. Mas ainda assim, acho que quando as nossas digressões constrangem a quem nos dirigimos, sinto que há um problema.