Hipóteses sobre a forma romanesca
[bolando hipóteses sobre a história da forma do romance]
Não é grande coisa (uma trivialidade acho), mas acho que quando o “romanesco” saiu do espaço dos “gêneros” codificados (ou começou a se enganar sobre conseguir evitar isso quando não evita), construiu-se um beco sem saída para o próximo passo (já que toda mudança é “original”).
Não existe uma nova fase do romanesco (uma evolução) enquanto o paradigma da singularidade/originalidade for dominante, já que o romance se torna de certa forma livre. Agora, o próximo passo nesse campo talvez não possa ser algo formal, mas talvez precise envolver outra coisa.
A hipótese (besta) é: as transformações na forma são em alguma medida avaliadas pelas transformações em gênero (elas e sua disseminação) permitem avaliar os passos dessa história, que tipo mudanças e novidades ocorrem nesse campo.
Isso significa que escrever um romance seria (como a gente sabe que era) dominar uma certa arte (uma certa técnica, uma capacidade de aderir/reproduzir o gênero. Ou seja, há um saber, algo a se aprender. Quando o gênero começa a se desfazer por dentro, a coisa muda de figura.
O romanesco deixa de ser um conjunto de repertórios que é variado e passa a ser um campo mais livre (aqui de alguma forma estou importando mal a narrativa do Sérgio Ferro, mas acho que se sustenta heuristicamente), em que cada um é livre para reconstruir o gênero como for.
Nesse momento o escritor 1) não está mais atado/sobredeterminado a um conjunto de códigos/perspectivas/procedimentos (o que demanda um saber-fazer) e 2) cada romance é a oportunidade de uma nova invenção do dispositivo romance (César Aira me parece um caso limite).
Se isso for o caso, então qualquer tipo de experimentação tem como contrapartida da liberdade desse momento (poder levar o dispositivo romanesco à graus de experimentação inédito) tem como custo que nenhuma dessas experimentações pode constituir uma fase, uma etapa da história.
E o que fazer diante desse beco (para quem considera um beco)? Eu sinto que tem algo a ver com a experimentação institucional (o que significa que talvez signifique que uma democratização desse tipo de experiência seja algo mais da ordem do dia do que a enésima experimentação).