May 11, 2023

Os limites do ecossistema literário nacional

Pensando muito que a gente talvez tenha que apenas dizer não para o universo expandido Moreira Salles. Eu também amaria que ele (ou alguém do complexo famigliar) me escolhesse como bobo da corte, de modo que pudesse pagar minhas contas mais tranquilamente, mas que merda, né?

Nenhum dos empreendimentos desse complexo famigliar vai resolver os problemas que temos. A ciência não vai dar saltos (afinal, não é um instituto de financiamento que faz isso), a esfera pública não vai se tornar mais viva, o mundo editorial não será mais amplo que SP-RJ-POA.

Eu acho que a gente quer isso, a gente sofre com editais do serrapilheira, com concursos da serrote, pois de fato tudo o que a gente quer é uma oportunidade (sobretudo num momento em que as promessas [kkkkk] de uma vida em que todos são professores universitários se desfazem).

Eu acho que algumas pessoas vão conseguir se incluir nesse mundo (um salve para vocês!) mas para a maior parte de nós, acho que vão sobrar só as expectativas e frustrações a partir das migalhas que chegam. E no fim das contas nos fazem acreditar que é o único caminho.

Não ironicamente eu acredito cada vez mais que existe um esforço muito grande de organizar os sistemas de transmissão e circulação de ideias de maneira concêntrica. Como se o que houvesse fossem circulos cada vez mais afastados de um centro (um bilionário, i.e., Moreira Salles’).

Essa imagem é sufocante, ela nos faz acreditar que fora conseguir ir se incluindo nesses círculos mais centrais, que vamos ter fracassado de alguma forma, ou que de alguma forma não demos conta do recado (ou não olharam para a gente, não deram uma oportunidade).

Depois de acompanhar certos debates nessa rede (sobretudo no que diz respeito às reedições do Candido, à incapacidade da crítica literária de criticar dando nomes aos bois e assim por diante), fico cada vez mais convencido de que só uma indiferença pode nos ajudar.

Essa indiferença inclusive ajudaria a nós (os que, como eu, são de maneira bastante frustrantes, seduzidos pelo canto, pela promessa de uma ajuda de um bilionário) a perceber que já tem muita gente indiferente a isso, tocando uma série de processos massas.


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Sobre a dificuldade de se perdoar Um dos piores tipos de tristeza é aquela que diz respeito a algo que você já se perdôo. As racionalizações e ponderações já foram feitas, você já