O descompasso entre a filosofia interna e externa
Me pergunto se o descompasso entre filosofias hegemônicas no espaço mais intenso de elaboração filosófica (circuito universitário anglo com filosofias analíticas etc) e as filosofias que tendem a circular em outros campos (geralmente mais “continentais”) é uma novidade histórica.
“Eu só acho engraçado que” ambos os lados dessa assimetria (voluntaria ou involuntariamente) tendem a tomar seu aspecto assimétrico como a justificativa para a sua superioridade diante do outro campo (ainda que “analítico” e “continental” não estejam bem definidos aqui).
O circuito anglófono universitário (que tomo uma filosofia pelo seu laço institucional e de modo algum por questão doutrinal ou procedimental — de modo que “analítico” é apenas uma abreviação cômoda) se apóia na sua hegemonia no fato de dominar o campo acadêmico de filosofia.
O raciocínio (que não precisa estar explicitado para fazer sentido) parece ser: se as pessoas que vivem de filosofia tendem a fazer esse tipo de filosofia, então esta possui alguma superioridade em relação às outras formas. A dominação institucional é o signo de sucesso.
A filosofia continental (que está longe de ser uma que se exerce no continente europeu e que também não tem qualquer unidade doutrinal ou de procedimentos) parece compensar seu caráter de minoria na instituição com sua capacidade de afetar outros campos e problemas.
A filosofia continental justificaria sua superioridade com um raciocínio do tipo: “o fato de que esse tipo de filosofia circula para além dos círculos estritamente filosóficos é um sinal de que tomamos em questões universais que tocam a todos, logo somos a verdadeira filosofia”.
Não acho que esses “tipos” precisam defender posições assim explicitamente. Acho que isso é algo que se deduz/supõe a partir dos comportamentos das pessoas conforme elas estão mais ou menos engajado em um tipo de laço institucional.