October 15, 2021

O excesso de palavras

Extremamente irritado com o fato de que minha tese é simplesmente um excesso de palavras que acreditam que esse palavrear todo é alguma coisa.

Não que eu ache que precise ser assim. Mas acho que um dos efeitos de ter tido uma formação meio irregular é que eu realmente demorei muito tempo pra entender (ao menos pra mim) pra que serve um texto, o que significa a eficácia de um texto (e esse era o objeto da tese kkkk).

A minha tese é um deslumbramento infindável com a capacidade de dizer coisas. E claro que quando certas coisas são ditas elas são interessantes, elas afetam coisas (era esse meu problema inicial: como a filosofia é algo que afeta). Mas no caminho me seduzi pelo palavrear.

Sem contar que me incomoda demais uma ideia que perpassa aquele trabalho que é a filosofia como uma espécie de ponto de vista privilegiado. Até acho que a filosofia tem valor, importância, relevância, mas diria isso hoje em dia sem lhe atribuir o papel de discurso-dominante.

Apesar de Platão achar qeu a filosofia é TUDO (ou justamente por isso), ler Platão curiosamente foi o que me permitiu um detox desse tipo de ideia e me fez começar a pensar o papel do discurso filosófico de outra forma.

October 13, 2021

Amizade e impessoalidade

Pensar um conceito de amizade em que ela seja absolutamente impessoal. Sem que seja necessário gostar da essência de qualquer pessoa. Apenas surfar na etiqueta e no puro respeito ao outro sem que se precise inclusive se interessar pelo outro.

Se temos interesses e afinidade, ótimo. Se não temos, tanto faz (inclusive pode ser o ponto de ir além dos seus limites). O que importa é que vá embora toda essa coisa de que pra ser amigo precise ter também todo um sentimentalismo (não que não possa ter, eu sou bastante).

Eu não gosto dos conceitos de amizade da antiguidade (muito involuntariamente utilitarista” nas leituras que vejo). Mas também não costumo gostar muito como vejo amizade aparecendo espontaneamente hoje em dia. No mais das vezes acaba virando uma espécie de bairrismo/grupelho.

October 12, 2021

Os efeitos da minha conversão platônica

Acho engraçado quando penso que de fato a leitura do Platão foi uma espécie de conversão pra mim em que tem um antes e um depois. Antes disso eu de certa forma tomava como doutrina/meta o materialismo do Lucrécio (ainda que as justificativas ali sejam meio toscas).

Hoje em dia eu acho que se manter restrito ao âmbito das linguagens” e corpos” (cf. Introdução do Lógica dos Mundos do Badiou em que se discute o materialismo democrático) é deixar de fora aspectos importantes (até com implicações políticas conservadoras).

Essa conversão também parece explicar um desvio em alguns autores que me interessam. No lugar de Foucault e Deleuze, Rancière e Badiou tem parecido mais interessantes e férteis (pros problemas que me interessam). Mesmo Espinosa tem ganhado outra feição nesse processo.

October 9, 2021

Dois tipos de texto de filosofia

Tem dois tipos de texto da filosofia que amo de paixão (e odeio eles por sentir que se não me policiar acabo fazendo eles, como em parte foi a minha tese). O primeiro tem a ver com a arbitrariedade das referências, o segundo é uma certa imagem do que é uma ideia” em filosofia.

Já reclamei muito do primeiro. É basicamente como eu vejo minha tese. Uma confusão entre montar uma imagem coerente a partir de um conjunto de referências” e conseguir efetivamente traçar um problema real por meio das referências. Tem uma diferença de vetores que torna difícil.

No primeiro caso, que acho que é o que faço/fiz, se confunde um conjunto de referências se conectar, montar uma história, conseguir ter uma coerência entre os textos” com aquilo efetivamente dar a dimensão de um problema. Trata-se de uma imagem que pode ter valor, mas engana.

Eu acho que é uma diferença bem sutil e que nem sempre consigo identificar na prática, pois são coisas que se parecem — como uma espécie de um simulacro” de uma descrição de um problema, que externamente é extremamente parecido com ele tornando difícil a diferenciação.

E quando digo que é meio arbitrário, é que se as referências usadas fossem outras, a imagem que se constrói se modificaria sem muito atrito (pois o que está em jogo é apenas organizar os encontros bibliográficos arbitrários que se tem).

Não que eu ache que diferentes textos não alteram o que se escreve, mas acho que se a coisa está tão fluida isso não é bom sinal. Ou ao menos pra mim indica que não tem realmente um problema ou uma questão que funciona de centro gravitacional que quer ser explicitado.

Então eu acho que esse texto é algo que me incomoda, mas ao mesmo tempo é algo que é muito fácil de apontar diretamente os problemas justamente pela sua capacidade de se camuflar (de fato tem algo meio sofístico — pensando no problema levantado na primeira metade de O Sofista).

O segundo texto que me incomoda, e que pode estar junto do primeiro, é um que acredita que uma ideia” em filosofia é a junção de dois campos conceituais distintos. E é claro que isso tem tração pois de fato muito da filosofia se faz justamente na interação entre gramáticas.

O problema é que nem sempre essa mistura de conceitos de diferentes campos tem realmente alguma liga fora a junção externa que o autor faz. Acho que o fracasso da minha dissertação (ao menos de sua intenção) é um exemplo particularmente visível dessa tentativa.

E de novo, é algo que é muito fácil enganar”, pois também a boa filosofia tem algo de misturar diferentes linguagens, de fazer interagir assuntos e conceitos que não estarão ligados de antemão. Mas assim como no primeiro caso, o problema é quando a coisa é feita de capricho.

E aí fica-se com a impressão de que basta juntar dois universos conceituais distintos” que externamente parecem afins” para fazer filosofia. Como se uma ideia” em filosofia fosse uma espécie de crossover de filmes da marvel.

E nem acho que isso é feito de modo consciente. Pelo contrário, é uma coisa que me parece inconsciente e invisível a quem escreve (eu que talvez me incomode demais e quando vejo um textos desses — ou coisas minhas — só consigo pensar: mas isso é aribtrário demais!!!).

Acho que em parte por isso também que uma das questões que tem surgido pra mim tem sido justamente o que é o lastro de uma referência. Substituir uma referência que seja meramente uma função bibliográfica por algo que de fato constranja a pesquisa em determinadas direções.

E claro, a dificuldade (e o desafio) é que não existe uma referência que apareça de modo imediato”. Na maior parte das vezes ela de fato vai aparecer no contato com textos, com bibliografia. O difícil então é conseguir distinguir entre esses usos diferentes dos textos.

October 4, 2021

O discurso no twitter e na história da filosofia

Eu realmente não sei como é possível gostar dessa rede que tem como ímpeto principal tirar tudo do contexto rapidamente tornando qualquer comentário pontual numa lei universal que por sua vez é imediatamente atacada por pessoas que só conseguem enxergar discursos absolutos.

Poderia dizer que inclusive isso parece muitas vezes o que acontece na história do pensamento. E bem, assim como lá, apesar disso, pra bem ou pra mal, acho que muita conversa boa acaba acontecendo apesar dessa dissonância constante.

September 28, 2021

O gol” que falta para a história da filosofia

Eu sei que reclamo muito da especialização em história da filosofia mas ao mesmo tempo me interessa demais esse movimento pois acho que de alguma forma é a formas do campo aspirar a uma cientificidade. Parece que tem algo relevante mudando na prática filosófica nesse movimento.

A forma de organizar o saber se modifica de modo que o filosofar se torna um detalhe no mesmo sentido que pro Parreira o gol” é um detalhe.

O que falo não se aplica ao campo como um todo (o campo anglófono se organiza de outra firma), mas acho que se a gente pega autores reconhecidos como filósofos recentes são todos também de alguma forma historiadores.

Mas eles se relacionam com a história de uma forma diferente que um Aristóteles, Espinosa ou Hegel se relacionam com a história da filosofia. O que tá em jogo é um autor específico (que implica uma posição no mercado de trabalho da fiosofia) ser o ponto de partida do filosofar.

Eu tou circulando muito nisso desde que dei o curso recentemente sobre o desejo da filosofia. Infelizmente ainda acho que tou muito no nível da impressão, mas acho que tem algo interessante que é que a própria filosofia fica sem lugar por conta da hegemonia da ciência histórica.

Eu leria isso como uma oportunidade em termos de renovação da filosofia se isso não implicasse (sobretudo na conjuntura atual) da destruição da carreira de tantos profissionais do campo.


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