January 25, 2022

Uma avaliação das teorias éticas hegemônicas a partir de Karatani

Eu estou tentando evitar estudar” (com sucesso) e até pensar (mais difícil) coisas de filosofia, mas uma hipótese que tem insistido é a ideia de ver se é possível mapear três das grandes correntes éticas dominantes no esquema dos modos de troca do Karatani.

Ainda está em estágio embrionário, mas tenho a impressão de que as éticas de virtudes, as éticas deontológicas e as éticas pragmatistas/utilitaristas podem ser compreendidas a partir dos três modos de troca que ele elabora (dádiva-dívida, pilhagem-redistribuição, mercadorias).

O que eu acho que isso talvez ajude a ver é uma espécie de fundo” material desses discursos éticos. Isso ainda não está totalmente claro para mim, mas talvez ajude a entender um pouco quais as diferentes funções que esses discursos possuem conforme se organizam as situações.

Ainda não sei bem como fazer isso, mas provavelmente vou tentar pegar um par de textos para cada uma das correntes. Um texto mais clássico, outro as leituras mais contemporâneas. A ideia é então ver se essa hipótese de leitura se sustenta num contato com atrito.

A motivação pra isso é uma impressão (que talvez seja totalmente falseada, não importa muito) de que há uma valorização exagerada da força” do discurso ético. Como se ele fosse uma espécie de chave para ações políticas.

January 24, 2022

A insana vida do filósofo acadêmico estadunidense

Quando eu penso no modo de produção acadêmica americano eu fico com certeza que jamais teria aspiração de virar acadêmico se tivesse me formado naquele lugar.

Sei lá pra outras áreas, mas em filosofia tem que ser muito insano olhar pro que precisam fazer acadêmicos nos últimos 20/30 anos lá pra ter uma chance de sobreviver no mercado e achar aquilo razoável.

O que eu acho mais insano é que parece tudo uma grande oferenda, um sacrifício em papers e mais papers em mil correções em peer-reviews com pessoas insanas tudo para o altar do deus tenure-track.

Acho que a filosofia enquanto disciplina certamente se beneficiou pelo surgimento da instituição universitária moderna (permitindo à democratização da atividade, ainda que lenta). Por outro lado, passado um tempo também é bom lembrar que nem sempre as finalidades coincidem.

Acho isso especialmente trágico no Brasil pois vivemos (ou vivíamos, acho difícil analisar os últimos anos ainda mais com tudo que houve) um momento de acesso a essa instituição inédito.

January 16, 2022

O caráter burguês da filosofia atual

Acho que o caráter burguês da filosofia atual está mais na maneira como ela se institucionaliza a partir da universidade e da promessa de uma vida organizada em torno da oportunidade de transformar essa atividade em um trabalho que se vende do que em qualquer autor eleito.

Nesse sentido pra mim conta muito mais a dinâmica de transformação da filosofia em mercadoria e a transformação das interações em um mercado que avalia o valor dos pensamentos do que o autor ou programa filosófico que bomba no momento.

Claro que alguns programas filosóficos” parecem ser mais afins à estrutura do mercado. Mas parecem ser aqueles que já são dominantes: a) a historiografia filosófica (lastro histórico) b) a filosofia analítica (valor interno”e c) a filosofia continental (valor externo).

Isso poderia ser mais desenvolvido (quando vier o livro de metafilosofia”), mas diria que no fundo o problema é que não tem como fugir dessa lógica de um ponto de vista puramente teórico (alterando o conteúdo), apenas buscando organizar outras formas de circulação do saber.

December 9, 2021

A dificuldade da obra difícil

Uma coisa que sempre me fascinou foi a obra difícil”. Nada me convence que certos livros eram também ilegíveis (ainda que por razões diferentes) em seu tempo. O que faz alguém, no calor do momento, atravessar essa dificuldade, encarar a coisa, evitar reduzir ao conhecido?

Claro que nenhuma obra é uma ilha e o que existe é sempre em alguma medida uma comunidade de pessoas que já parecem sempre estar abertas pra também captarem o que está ali. Ainda assim me fascina que algumas pessoas precisem ser os marinheiros de primeira viagem.

December 5, 2021

A conexão Marx-Walser

Hoje me peguei pensando mais uma vez na possível fusão karl marx-robert walser. O que isso seria só deus sabe.

Eu acho que acima de tudo tem pra mim aí um problema que é entender como é a relação de participação (oi Platão) do tipo de vida ordinária promovida pelo Walser (que não é pra mim uma mera recusa do grande em nome do pequeno) com formas de se organizar emancipatórias.

Isso talvez não faça muito sentido fora da minha cabeça, mas tudo bem. Acho que na minha cabeça também não faz muito sentido fora uma sensação de que o que me atrai no Walser é ele não ser um simples elogio do minucioso mas o minucioso ser a nossa forma de participar no grande.

November 28, 2021

A boa-fé socrática

O traço mais bonito dos diálogos do Platão pra mim é o esforço de levar na boa fé as opiniões/posições alheias (e tomar como má fé apenas após a pessoa dar seguidas provas de má-fé ou cegueira ao diálogo).

Ele consegue fazer isso sem que o Sócrates fique parecendo um simples trouxa (o que realmente seria uma forma estúpida de boa-fé). Me parece mais uma aposta que dá uma chance para o outro ao tentar quebrar qualquer estupidez por meio da ternura e gentileza.

Sei que nem todo mundo vai concordar com essa caracterização dos diálogos e da figura do Sócrates, mas acho que se tem uma coisa que é forte ali é o lema kill them with kindness”. Pois o que se tem que matar” não é o outro, mas justamente uma certa indisposição.

E não acho que isso dá certo sempre. Acho que ao longo da obra a gente encontra fracassos (a conversa com Cálicles no Górgias ou com Êutifron no diálogo de mesmo nome) sucessos (Mênon, Teeteto) e até situações ambíguas (Alcebíades no Banquete).


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