February 12, 2019

Sobre a paixão de Sebald pelos seus autores prediletos

O livro do Sebald sobre escritores que ele ama é incrível. Eu sinto que tou conhecendo um outro lado do Max que ele mostra raramente. Você sente uma certa alegria nele ao descrever a vida e os procedimentos desses escritores.

Uma coisa que eu tenho gostado desses ensaios é que o Max veste com mais a frequência de crítico do capitalismo”. Não apenas por falar mal, mas de atentar para a relação entre a derrocada da modernidade e as transformações operadas pelos modos de relação social capitalistas.

Interessante lembrar que o Adorno era o mestre espiritual” do Sebald nos anos de aprendizado (eu não lembro se ele chegou a ter uma carta de recomendação do Teddy ou se ele hesitou em querer ser orientado por ele. mas é um laço forte).

February 9, 2019

Reflexões sobre a inclusão universitária promovida pelo PT

Eu tenho a impressão que a inclusão na universidade promovida pelo PT acabou, involuntariamente, abrindo espaço (ou acelerando, sendo gatilho) para o desenvolvimento de uma espécie de ciência militante (sobretudo nas ciências humanas) que corre risco de ser abortada precocemente.

Falo aqui da mobilização politicamente interessada dos mais variados recursos teóricos para descrever, explicitar ou mesmo produzir novas perspectivas sobre fenômenos (sociais mas não só) que eram esquecidos, ignorados ou sequer enxergados.

Isso não implica um comprometimento da objetividade em nome de um relativismo pós moderno. Pelo contrário, pois esses saberes só são eficazes na medida em que são objetivos, que possuem uma certa consistência para gerarem efeitos nas instâncias nas quais eles se imbricam.

Essa ciência militante funcionaria por meio do engajamento desses saberes objetivos construídos nas mais diversas instâncias (na jurídica, na político-partidária, na burocracia estatal mas também em um certa instância existencial ao testemunhar por modos de existência frágeis.).

Não surpreende a universidade ser um alvo desses abutres. Deles fazerem questão de taxar certas pesquisas como irrelevantes. Me parece uma reação inconsciente aos perigos desse aspecto militante - ainda que disperso e desorganizado - dos saberes. Uma desmobilização preventiva.

February 9, 2019

A produção infinita de metodologias

I n f i n i t a s investigações metodológicas é basicamente a conclusão de qualquer ideia ou projeto de pesquisa que eu tenho.

Na verdade acho que talvez a minha posição seja um pouco semelhante ao do Aira com relação aos procedimentos. O que dá pra fazer (ao menos enquanto pesquisador individual) é criar procedimentos e deixar eles rodarem sozinhos (ou nem rodarem, dependendo do desinteresse).

Inclusive foi um grande peso tirado de mim quando percebi que o meu interesse em ciências humanas em geral tem mais a ver com os procedimentos inventivos que eles criam para lidar com seus objetos (e para criá-los, também) do que com interesse pelo objeto em si.

Não que os objetos sejam por sua vez irrelevantes, mas acho que o que acaba é que fica mais difícil ficar apenas tomando eles como coisas simplesmente dadas”. Eles também são máquinas que geram procedimentos e heurísticas (“práticas”) para problemas.

February 7, 2019

Sobre ontologias do presente”

Alguém faz alguma coisa interessante com a ideia de Ontologia do presente”? Algo que NÃO seja explicar o conceito (apenas esboçado) na obra do Foucault.

No fundo eu acho mesmo que Ontologia do presente” é um filho que quer se separar do pai, a filosofia da história”. Mas é inegável que há uma relação. Cabe um pouco tentar entender o que distancia/diferencia (como a tentativa de evitar um telos previamente dado).

Em certo sentido acho que seria interessante tentar começar a definir mais por alguns exemplos, o que é complicado. Acho que O Anti-Édipo é algo que ensaia (ainda que de maneira muito esquemática), mas o próprio Foucault na medida em que elabora o curso sobre neoliberalismo.

Exemplos mais contemporâneos eu destacaria dois: O livro da Anna Tsing sobre cogumelos e os ensaios do Paulo Arantes no último livro dele. Daria pra dizer que o Flusser tenta fazer isso nos seus livros, mas ele é mais velho e tem uma certa assistematicidade que dificulta ver.

Em que sentido entendo uma ontologia do presente? É uma análise não de fenômenos empíricos, mas de categorias (historicamente contingentes) que ordenam e organizam a experiência. É a análise da gênese dessas categorias e dos efeitos específicos que se estruturam a partir delas.

February 3, 2019

O problema do currículo nas universidades

Outro dia estava conversando com uns amigos sobre a questão do currículo, sobretudo do IFCS que é o que eu conheço. E acho que deu pra formular melhor uma coisa que já tinha dito antes. O problema de você fazer um currículo hipponga e aberto é que ele é uma falsa promessa.

Se você não avisa pros alunos que esse currículo não dá conta do que vai ser exigido mais pra frente (ali na porta estreitíssima que são concursos) você tá apenas adiando uma má notícia. O problema não é um currículo aberto, mas as instâncias superiores não estarem no conchavo.

No fim fica prejudicado o aluno que não tem um certo capital social. Que precisa se virar para descobrir aquilo que ele deve estudar, aquilo que é exigido pois em nenhum momento os professores chegam e sentam e falam olha isso aqui é considerado mais importante etc etc.

É tudo meio que empurrado para a conta do aluno. Ele que se vire, ele que descubra, ele que se organize e tente entender por conta própria. O problema é que nem todos tem as mesmas condições materiais. A partida já é assimétrica, mas essa postura só torna a coisa pior ainda.

Eu vejo no IFCS. Acho bonito certas coisas, acho bonito eles abrirem as linhas de pesquisa. Mas ninguém faz doutorado para se divertir. E quando faz geralmente não depende disso. Agora me diga, existe concursos que contemplem pessoas que passaram 10 anos estudando questões queer?

No máximo você encontra um ponto ou outro. Você encontra uma questão em doze abordando esse tema (e isso é um começo, claro). Mas 95% das vagas em filosofia são o genérico história da filosofia” ou uma das grandes áreas (“metafísica”, ética”, política”, estética” etc.).

Eu acho isso horrível. A coisa não é para todo mundo mas sinto que esse gesto de abertura não é acompanhado de uma certa dose de realismo sobre as perspectivas. Há uma vergonha (e entendo) de se admitir que muito provavelmente tudo acaba na defesa de doutorado.

Não acho que há solução para isso, mas poderia começar com os docentes não fazendo a egípcia diante desse problema. Expandindo vagas de mestrado e doutorado e incentivando persquisas heterodoxas (que são coisas fundamentais) como se a responsabilidade deles terminasse aí.

February 2, 2019

A leitura complementar de textos filosóficos

Acho que o difícil é conseguir entender os autores simultaneamente como produtos do seu tempo (ou seja, entender as condições materiais que produzem os seus pensamentos) e agentes do seu tempo (o que pensam pode ter capacidade de alterar as condições materiais que o produziram.).

Isso implica por um lado entender os problemas que condicionam o surgimento dessas ideias específicas sem concebê-las como emergindo magicamente de um gênio”. Por outro implica entender esse conteúdo específico que ao ser pensado se torna ele próprio mais uma causa no mundo.


← Newer Entries Older Entries →