February 3, 2019

O problema do currículo nas universidades

Outro dia estava conversando com uns amigos sobre a questão do currículo, sobretudo do IFCS que é o que eu conheço. E acho que deu pra formular melhor uma coisa que já tinha dito antes. O problema de você fazer um currículo hipponga e aberto é que ele é uma falsa promessa.

Se você não avisa pros alunos que esse currículo não dá conta do que vai ser exigido mais pra frente (ali na porta estreitíssima que são concursos) você tá apenas adiando uma má notícia. O problema não é um currículo aberto, mas as instâncias superiores não estarem no conchavo.

No fim fica prejudicado o aluno que não tem um certo capital social. Que precisa se virar para descobrir aquilo que ele deve estudar, aquilo que é exigido pois em nenhum momento os professores chegam e sentam e falam olha isso aqui é considerado mais importante etc etc.

É tudo meio que empurrado para a conta do aluno. Ele que se vire, ele que descubra, ele que se organize e tente entender por conta própria. O problema é que nem todos tem as mesmas condições materiais. A partida já é assimétrica, mas essa postura só torna a coisa pior ainda.

Eu vejo no IFCS. Acho bonito certas coisas, acho bonito eles abrirem as linhas de pesquisa. Mas ninguém faz doutorado para se divertir. E quando faz geralmente não depende disso. Agora me diga, existe concursos que contemplem pessoas que passaram 10 anos estudando questões queer?

No máximo você encontra um ponto ou outro. Você encontra uma questão em doze abordando esse tema (e isso é um começo, claro). Mas 95% das vagas em filosofia são o genérico história da filosofia” ou uma das grandes áreas (“metafísica”, ética”, política”, estética” etc.).

Eu acho isso horrível. A coisa não é para todo mundo mas sinto que esse gesto de abertura não é acompanhado de uma certa dose de realismo sobre as perspectivas. Há uma vergonha (e entendo) de se admitir que muito provavelmente tudo acaba na defesa de doutorado.

Não acho que há solução para isso, mas poderia começar com os docentes não fazendo a egípcia diante desse problema. Expandindo vagas de mestrado e doutorado e incentivando persquisas heterodoxas (que são coisas fundamentais) como se a responsabilidade deles terminasse aí.


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