August 10, 2020

A ambiguidade da rede mundial de computadores

Tenho pensado muito sobre como se portar na internet e acho que deve ser um misto de dificultar e intelibilizar que é simultâneo. Por um lado eu acho clareza fundamental, por outro tendo a achar que é importante resistir à facilidade de se tornar conteúdo, mais um conteúdo.

Isso é tudo prévia para o que seria algum dia uma ética/etiqueta” da/na internet. De alguma forma acho que a clareza e a inteligibilidade tem que servir como uma espécie de forma de EMPERRAR E TRAVAR o circuito infinitos de conteúdos que povoam esse espaço. Um espessamento”.

O que acontece é que um dos maiores predicados que descreve esse espaço é uma aderência escorregadia. Se você não toma cuidado você acaba gastando seu tempo como se nada tivesse acontecido (fora a ressaca temporal que faz você se perguntar pra onde foi o tempo”).

tava escutando a entrevista da Jenny Odell com o Ezra Klein (recomendação da sempre certeira @aaaammandaaaa ) e um procedimento que ela comenta para ir contra essa tendência (que eles discutem lá sem nomear nesses termos) é a elaboração do contexto nos objetos que tratam.

Acho que isso é uma ótima forma de emperrar a máquina que alia inteligibilidade com freio pois a operação não é uma que produz hermetismo, pelo contrário, ela vai progressivamente dificultando a sua capacidade de sair desse objeto” em direção a outro.

O contexto faz a gente gastar mais tempo em um certo local (faz a gente perder tempo) e, por outro lado, acaba fazendo com que seja mais difícil botar tudo em termos de uma equivalência geral, pois o objeto vai se singularizando.

August 8, 2020

O excesso de produtores buscando atenção

Ao mesmo tempo que eu acho massa pessoas se engajando em atividades criativas, por todo potencial que tem nisso, não consigo não me sentir as vezes o cara da CRÍTICA DA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO FODA, pois muitas vezes parece haver mais o desejo de ser produtor do que de produzir.

Sinto sempre que é muito difícil navegar entre as formas que a gente tem pra realizar esses desejos hoje em dia, de que rapidamente a coisa é vampirizada e transformada em uma atividade já morta. É como se os meios que libertassem a gente já nos conduzissem pra um outro inferno.

Pra mim um dos exemplos disso é aquele site que entrevista as pessoas sobre como elas escrevem. Nada contra quem faz e também sobre a pessoa que organiza (acho que tem ali um desejo de construir laços por meio dessa identidades que em tempos de desorientação é muito justo).

O problema pra mim aparece quando se olha pro arquivo enquanto um todo. É como se todas as pessoas tivessem petrificadas e congeladas em seu desejo de ser escritor sem que a escrita apareça (já que a identidade escritor” é o princípio unificador do projeto).

É uma inversão curiosa e que talvez só fica visível (pra mim) a partir de uma massa de depoimentos e entrevistas. O que acho que acontece é que a atividade fim acaba se subordinando ao predicado que descreve a atividade, transformando ele no elemento primário.

E que as pessoas desejem esse predicado não é um problema (e bem, na nossa sociedade é difícil não desejar certos predicados), o problema é que em escala ele vai tomando uma certa evidência que põe talvez a atividade (que em sua prática produz diferenças) em segundo plano.

August 7, 2020

A fetichização de discursos de alteridade na universidade

Um dia alguém vai fazer um ensaio sobre como xapiri” (e afins) foi fetichizado na academia. E quando digo fetichizado eu falo da forma como lhe é atribuído uma existência excluída do sistema de signos e práticas que dão existência pra aquilo.

Só pra esclarecer: dizer que xapiri depende de um sistema de signos e práticas não é dizer que ele não existe em si, pois acho que nada existe em si. A mesma coisa se pode dizer sobre a ideia de inconsciente, de alma, de subjetividade’ (todas coisas bem reais pra mim).

O que não significa que a gente não possa e não queira dar conta de como certas coisas atravessam mundos, como as coisas podem ser deslocadas para além dos sistemas de signos e práticas (os trabalho da Tsing, do Latour e do Badiou — de formas diferentes — vão nessa direção).

E dar conta disso é importante, acho. Pois na maior parte das vezes quando se trata teoricamente disso parece que xapiri” aparece para resolver a bagunça da nossa ontologia. Como se fosse uma chave mágica que revelasse os pecados da nossa ontologia e prometesse uma salvação.

August 7, 2020

A dificuldade de pensar

É muito difícil pensar, bicho.

Das coisas que acho difícil uma é que tem coisas que são objetivamente difíceis de manter na sua cabeça. Como se o que você tá tentando pensar fica escorrendo entre as frestas da sua mente e resite a inteligibilização. A outra é que as coisas pensadas são virtualmente infinitas.

Sobre essa última, não apenas cada coisa que você pensa puxa outra coisa e assim por diante, mas cada coisa que você puxa pode também ser uma nova perspectiva que te obriga a conseguir pensar a coisa sob outras relações/formas de organização. O que volta pra primeira dificuldade.

August 6, 2020

Uma paródia de Guy Debord sobre o discurso internético

Parodiando Guy Debord: O [conteúdo] não é um conjunto de [discursos], mas uma relação social entre pessoas mediadas por [discursos].”

Vou tentar continuar com essa paródia/paráfrase aqui apesar de o fetichismo da mercadoria ser um tópico que é meio que um ponto cego no meu cérebro (por favor *não tentem me explicar isso pois vou ignorar essas mensagens).

Se a forma-conteúdo é uma relação social entre pessoas MEDIADA pelo discurso, então o que aparece como conteúdo é um discurso que aparece como o que só responderia e ganharia sentido na medida que se posiciona no grande mercado das takes”. O valor viria de outros discursos.

Segundo essa lógica, porém, essa aparência de autorreferencialidade dos discursos (autorreferencialidade no fato de que o campo discursivo aparecer como conteúdo respondendo a conteúdo) seria apenas o efeito das próprias relações sociais se organizarem de uma determinada forma?

Se certas relações sociais se organizarem enquanto mercadoria implica nas mercadorias aparecerem como possuindo relações sociais elas mesmas (elas são a fonte do valor), então na medida em que nós nos organizamos dessa forma o nosso próprio discurso assume uma forma específica.

Sob essa forma os discursos se apresentariam simultaneamente como aquilo que dá critério de valor aos outros discursos mas que também velaria que os discursos eles mesmos aparecem como objeto de troca apenas por reproduzirem determinadas relações sociais que viraram dominantes.

A forma-conteúdo realiza sua forma na medida em que ela própria vela a condição que a sustenta? Nesse sentido não é que a internet seja o espaço que é a origem da forma-conteúdo (a condição técnica não é a origem de uma relação social, como máquinas não causam capitalismo”).

Talvez seja algo análogo à posição das fábricas que possuem um uso possível que se torna dominante pelo tipo de relação social que acaba sendo estruturante numa sociedade/mundo, de modo que o que vemos é um uso possível que acontece quando o discurso já se organiza de tal forma?

Tenho certeza que falei algo que alguém (um Fredric Jameson da vida?) deve ter falado de modo muito mais correto e econômico isso tudo que balbuciei acima, mas aprender eu acho sempre que passa por tentar articular sentido pra si (diálogo da alma consigo mesma, diria Sócrates).

August 6, 2020

O conteúdo produzido na internet

Parodiando Guy Debord: O [conteúdo] não é um conjunto de [discursos], mas uma relação social entre pessoas mediadas por [discursos].”

Vou tentar continuar com essa paródia/paráfrase aqui apesar de o fetichismo da mercadoria ser um tópico que é meio que um ponto cego no meu cérebro (por favor *não tentem me explicar isso pois vou ignorar essas mensagens).

Se a forma-conteúdo é uma relação social entre pessoas MEDIADA pelo discurso, então o que aparece como conteúdo é um discurso que *aparece* como o que só responderia e ganharia sentido na medida que se posiciona no grande mercado das takes”. O valor viria de outros discursos.

Segundo essa lógica, porém, essa aparência de autorreferencialidade dos discursos (autorreferencialidade no fato de que o campo discursivo aparecer como conteúdo respondendo a conteúdo) seria apenas o efeito das próprias relações sociais se organizarem de uma determinada forma?

Se certas relações sociais se organizarem enquanto mercadoria implica nas mercadorias aparecerem como possuindo relações sociais elas mesmas (elas são a fonte do valor), então na medida em que nós nos organizamos dessa forma o nosso próprio discurso assume uma forma específica.

Sob essa forma os discursos se apresentariam simultaneamente como aquilo que dá critério de valor aos outros discursos mas que também velaria que os discursos eles mesmos aparecem como objeto de troca apenas por reproduzirem determinadas relações sociais que viraram dominantes.

A forma-conteúdo realiza sua forma na medida em que ela própria vela a condição que a sustenta? Nesse sentido não é que a internet seja o espaço que é a origem da forma-conteúdo (a condição técnica não é a origem de uma relação social, como máquinas não causam capitalismo”).

Talvez seja algo análogo à posição das fábricas que possuem um uso possível que se torna dominante pelo tipo de relação social que acaba sendo estruturante numa sociedade/mundo, de modo que o que vemos é um uso possível que acontece quando o discurso já se organiza de tal forma?

Tenho certeza que falei algo que alguém (um Fredric Jameson da vida?) deve ter falado de modo muito mais correto e econômico isso tudo que balbuciei acima, mas aprender eu acho sempre que passa por tentar articular sentido pra si (diálogo da alma consigo mesma, diria Sócrates).


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