August 8, 2020

O excesso de produtores buscando atenção

Ao mesmo tempo que eu acho massa pessoas se engajando em atividades criativas, por todo potencial que tem nisso, não consigo não me sentir as vezes o cara da CRÍTICA DA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO FODA, pois muitas vezes parece haver mais o desejo de ser produtor do que de produzir.

Sinto sempre que é muito difícil navegar entre as formas que a gente tem pra realizar esses desejos hoje em dia, de que rapidamente a coisa é vampirizada e transformada em uma atividade já morta. É como se os meios que libertassem a gente já nos conduzissem pra um outro inferno.

Pra mim um dos exemplos disso é aquele site que entrevista as pessoas sobre como elas escrevem. Nada contra quem faz e também sobre a pessoa que organiza (acho que tem ali um desejo de construir laços por meio dessa identidades que em tempos de desorientação é muito justo).

O problema pra mim aparece quando se olha pro arquivo enquanto um todo. É como se todas as pessoas tivessem petrificadas e congeladas em seu desejo de ser escritor sem que a escrita apareça (já que a identidade escritor” é o princípio unificador do projeto).

É uma inversão curiosa e que talvez só fica visível (pra mim) a partir de uma massa de depoimentos e entrevistas. O que acho que acontece é que a atividade fim acaba se subordinando ao predicado que descreve a atividade, transformando ele no elemento primário.

E que as pessoas desejem esse predicado não é um problema (e bem, na nossa sociedade é difícil não desejar certos predicados), o problema é que em escala ele vai tomando uma certa evidência que põe talvez a atividade (que em sua prática produz diferenças) em segundo plano.


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A ambiguidade da rede mundial de computadores Tenho pensado muito sobre como se portar na internet e acho que deve ser um misto de dificultar e intelibilizar que é simultâneo. Por um lado eu