October 26, 2020

Sobre atos moralmente problemáticos no campo de esquerda

É triste que não seja surpreendente que mais um caso de abuso/assédio apareça no campo de influencers de esquerda. Vai ter mt gente que vai aproveitar pra mandar os insuportáveis eu já sabia”, mas acho que é epistemicamente terrível o fato de que ser desconstruidão é simulável.

Uma questão que ponho e que acho que deveria ser melhor explorada (não tenho respostas): haveria uma parcela de responsabilidade aqui na própria cultura das redes da esquerda que tende a privilegiar quem consegue enunciar os predicados corretos?

Até que ponto tem espaço pra lidar com esse problema se incansavelmente aparecem figuras que tocam as músicas certas? Eu sei que é puxar a sardinha pras minhas preocupaçôes, mas ainda que ter certos predicados ajude a localizar as pessoas, isso parece vir com um certo custo.

Se o principal critério de avaliação (e sendo um princípio para orientar não diria que isso é uma escolha voluntária, mas uma forma simples de se localizar rapidamente) passa pela auto-enunciação (recitação?), a fraude aparece como possibilidade inevitável.

Por isso que acho também muito difícil sair desse tipo de ecossistema, parece que exige um tipo de desprendimento inicial das nossas formas básicas de inteligibilização do mundo (ao identificar as pessos em predicados) que seria trabalhoso demais pela suspensão que produziria.

October 25, 2020

Como dar sentido para a ética atualmente?

Pensando na ideia de filosofia qua ética. É meu espinosismo reverberando aqui, mas me chateia pro tanto de gente que tem trabalhando (e gente boa) os aspectos políticos na filosofia, no que diz respeito ao campo ético o que tem é umas figuras que são auto ajuda com citações.

Acho chato pois de fato fica parecendo (ainda mais num contexto hiper-politizado, até em demasia) que esse campo não tem nada a contribuir fora ou reforçar uma visão de mundo atômica (a precedência do indivíduo) ou reverberando um ar normativo (filosofia como o que diz como agir)

Eu acho que em parte tem aí um equívoco interno ao campo de problemas da ética, ora pensado como uma reflexão sobre o valor das nossas ações (daí as posições as vezes prescritivas, normativas), ora como uma reflexão sobre a vida que vale a pena ser vivida (questões existenciais).

Esse equívoco suspeito que é o que facilita a ética ser transformada em um campo de auto ajuda. Não rolam reflexões sobre ação ajudarem a informar o problema existencial, a repensar que tipo de boa vida pode haver sem positivar uma imagem de bem. Apenas se reafirma o indivíduo.

E acho que nesse caso também, se a ética é encarada como uma espécie de normatividade geral para um indivíduo atomizad então de fato ela tem muito pouco a contribuir, sobretudo pra quem leva em conta a singularidade e transindividualidade das vidas particulares

Eu acho que isso tudo é importante (e a razão de eu ficar batendo com a cabeça direto contra essa parede) é que eu acho que é o campo de problemas que trata não de como devemos agir, mas de como se situar na sua relação com um mundo a partir do seu ponto de vista de partida.

E nesse ponto de vista acho que até vemos num lado o horizonte das questões políticas (que teriam a ver com as formas de organização social?) e do outro as práticas terapêuticas que partem de uma certa singularidade. A ética não seria nem um nem outro.

E acho que é por isso que os temas do amor e da amizade me interessam, pois eles tratam (intuitivamente?) dessa resolução que me interessa, ou seja, elas definem um campo a partir do tipo de distância que existe nas relações amorosas e nas relações de amizade. Mas claro, difícil.

October 24, 2020

A falsa-impressão dos jargões

Suspeito que ficar se apoiando em jargões/buzzwords funcione na ~esfera pública~ pois ele é uma forma de delegar o pensar à uma palavra. Se isso funciona talvez seja porque o próprio ato de pensar é também um movimento de delegar o pensamento a outro (mas no caso à ideia).

Acho que tem uma semelhança que permite confusão pois ideias também não tem como aparecer positivamente desconectadas das palavras, dos discursos. Daí ser tão fácil acreditar que quem tá usando as palavras do momento tá pensando, pois ela em tese estaria também saindo de si.

Claro, pra isso faz sentido tem que pressupor toda uma ideia de que nós não temos ideia, de que quando pensamos estamos na verdade apenas realizando o movimento de se desvencilhar das nossas opiniões em direção a algo fora de nós e inteligibilizável.

Enfim, preciso reler O Sofista.

October 21, 2020

Uma outra forma de olhar o aprendizado filosófico

É bem interessante esse texto, pois se por um lado acaba com meu sonho (por ora) de aprender a navegar na matemático, por outro me fez entender um pouco a esquisitice que tem sido essa conversão ao platonismo. Não foi tanto virar scholar mas ir ganhando fluência na sua linguagem.

Inclusive acho que essa forma de aprender filosofia tem sido algo que me interessa bem mais do que simplesmente saber historiografia. Tem algo foda de ir testando as formas de ver o mundo a partir de um filósofo que não tem a ver com entender” o que tá ali.

O @SimonDeDeo elabora bem alguns desses pontos que talvez possam ser repensados nesse campo filosófico (talvez, pois não saberia dizer se tecnicamente o que tou falando é esse chunk learning”, embora suspeite que sim).

Acho que é por isso que a segunda língua filosófica é tão importante de aprender. É quando você percebe em alguma medida que aquela primeira não é uma visão privilegiada do mundo, que não existe isso. Comigo foi a passagem do espinosano (e o dialeto deleuziano) pro platonismo.

Acho que inclusive meu apreço ao platonismo tem tanto a ver com as qualidades dessa gramática mas como o fato de ter me libertado de incômodos com meu espinosismo que só fui vendo retroativamente. Inclusive tem até me deixado com vontade de retornar a esse mundo de outra forma.

Acho que quando você ainda está na primeira linguagem filosófica é muito fácil você cair num procedimento de reduzir tudo a essa linguagrm sem espaço para que as coisas possam ser mais em outras gramáticas. E claro, aprender uma língua já é difícil suficiente, aquilo dá uma onda.

Ao mesmo tempo acho que quando se fica preso numa só língua você acaba inclusive ficando refém de certas limitações da gramática que se confudem (por ser sua única gramática) com os limites do real. A segunda língua aprendida é aquela que permite enxergar melhor esse fato.

Mas, e é por isso que acho difícil, essas linguagens não seriam meras compreensões do sistema”, identificação das teses”, mas justamente uma capacidade de mobilizar o que tá em jogo ali para da sua formulação no filósofo. Nesse sentido a obra seria apenas um mapa parcial.

Acho que no meu caso as que eu realmente me sinto seguro são o espinosano e o platonismo. Sinto que são formas de pensar que em alguma medida estão internalizadas de modo bem firme. Gostaria de continuar o aprendizado do kantismo e em algum momento experimentar hegelianismo.

Agora tentando pensar na prática o que seria um ensino de filosofia a partir dos princípios que a autora fala no artigo, o que seria ensinar a filosofia a partir dos chunks”.

Retomando esses problemas, acho que não é por acaso que Platão e Espinosa sejam pensadores que tenham uma gramática tão aprendível. O que se vê nas obras deles é repetições incessantes e maçantes de procedimentos que muitas vezes parecem ser excessivamente demorados.

Mas pensando nesses termos a canseira das demonstrações da Ética e as longas ironias socráticas talvez sejam justamente o aprendizado por chunks” internalizado já nessas mesmas obras. E bem, o próprio Espinosa dizia que as demonstrações são os olhos da alma.

October 16, 2020

A filosofia como uma gambiarra (gimmick)

Se a filosofia é procedimento (e não dogma), me parece que é possível pensar esse procedimento em relação às necessidades do capitalismo contemporâneo (ou seja: sem tempo irmão”). Me pergunto se certas filosofias (Olavo, Karnal, etc) seria uma versão gimmicky” da filosofia.

O interesse nessa questão não é, porém, apenas falar mal dessas pessoas, mas talvez pensar como na maneira como essas pessoas mobilizam a filosofia como um atalho pra dar sentido à vida (nesse mundo sem sentido), algo sobre a própria estrutura dessa atividade acaba se revelando.

Ao miniaturizar problemas e ansiedades, reduzi-los a eventos textuais’ tratados por grandes filósofos’ (que são miniaturizados na medida em que reduzidos a algumas frasers, algumas ideias chapadas), algo do caráter operacional da filosofia acaba funcionando?

October 12, 2020

Um modelo de evolução filosófica

Percebendo com o tempo que o modelo de filósofo que eu miro é o emburrecimento inteligente do Wittgenstein. Não sei o quanto isso é verdade, mas lembro de ter lido como ele no início fazia debates altamente técnicos sobre matematica e o caralho, preocupado com minúcias.

Mais pra frente ele ia fazendo objeções cada vez mais estúpidas, como se ele estivesse ignorando ou não soubesse os elementos técnicos ali. Enfim, devo ter expresso isso de modo bem errado, mas acho que tem ali um gesto interessante.


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