October 21, 2020

Uma outra forma de olhar o aprendizado filosófico

É bem interessante esse texto, pois se por um lado acaba com meu sonho (por ora) de aprender a navegar na matemático, por outro me fez entender um pouco a esquisitice que tem sido essa conversão ao platonismo. Não foi tanto virar scholar mas ir ganhando fluência na sua linguagem.

Inclusive acho que essa forma de aprender filosofia tem sido algo que me interessa bem mais do que simplesmente saber historiografia. Tem algo foda de ir testando as formas de ver o mundo a partir de um filósofo que não tem a ver com entender” o que tá ali.

O @SimonDeDeo elabora bem alguns desses pontos que talvez possam ser repensados nesse campo filosófico (talvez, pois não saberia dizer se tecnicamente o que tou falando é esse chunk learning”, embora suspeite que sim).

Acho que é por isso que a segunda língua filosófica é tão importante de aprender. É quando você percebe em alguma medida que aquela primeira não é uma visão privilegiada do mundo, que não existe isso. Comigo foi a passagem do espinosano (e o dialeto deleuziano) pro platonismo.

Acho que inclusive meu apreço ao platonismo tem tanto a ver com as qualidades dessa gramática mas como o fato de ter me libertado de incômodos com meu espinosismo que só fui vendo retroativamente. Inclusive tem até me deixado com vontade de retornar a esse mundo de outra forma.

Acho que quando você ainda está na primeira linguagem filosófica é muito fácil você cair num procedimento de reduzir tudo a essa linguagrm sem espaço para que as coisas possam ser mais em outras gramáticas. E claro, aprender uma língua já é difícil suficiente, aquilo dá uma onda.

Ao mesmo tempo acho que quando se fica preso numa só língua você acaba inclusive ficando refém de certas limitações da gramática que se confudem (por ser sua única gramática) com os limites do real. A segunda língua aprendida é aquela que permite enxergar melhor esse fato.

Mas, e é por isso que acho difícil, essas linguagens não seriam meras compreensões do sistema”, identificação das teses”, mas justamente uma capacidade de mobilizar o que tá em jogo ali para da sua formulação no filósofo. Nesse sentido a obra seria apenas um mapa parcial.

Acho que no meu caso as que eu realmente me sinto seguro são o espinosano e o platonismo. Sinto que são formas de pensar que em alguma medida estão internalizadas de modo bem firme. Gostaria de continuar o aprendizado do kantismo e em algum momento experimentar hegelianismo.

Agora tentando pensar na prática o que seria um ensino de filosofia a partir dos princípios que a autora fala no artigo, o que seria ensinar a filosofia a partir dos chunks”.

Retomando esses problemas, acho que não é por acaso que Platão e Espinosa sejam pensadores que tenham uma gramática tão aprendível. O que se vê nas obras deles é repetições incessantes e maçantes de procedimentos que muitas vezes parecem ser excessivamente demorados.

Mas pensando nesses termos a canseira das demonstrações da Ética e as longas ironias socráticas talvez sejam justamente o aprendizado por chunks” internalizado já nessas mesmas obras. E bem, o próprio Espinosa dizia que as demonstrações são os olhos da alma.


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