November 21, 2020

Uma regra de etiqueta

Tenho pensado que uma regra importante para a etiqueta é que a tentativa de corrigir alguém é geralmente uma desgraça em termos de interação social. Acho que a menos que a pessoa esteja agindo de má fé ou que isso de fato faça diferença, não sei se é positivo a correção.

Além de deixar de criar um clima babaca isso seria bom pra proteger quem tem o ímpeto de correção pois o impediria de cair no erro que eles sempre costumam cair nessas situações, que é não ter identificado o que estava em jogo ali e portanto apenas revelar a sua ignorância.

Será que aquela pessoa é idiota ou será apenas que existem camadas de contexto que ou você não quer ver ou não são acessíveis a você? Fica a questão.

November 18, 2020

Um elogio dos mestres da vulgaridade

Pensando em autores (que amo) como Flusser, Karatani, Ortega y Gasset, Cassin, que são mestres da vulgaridade. Eles tem uma capacidade de transmitir intuições extremamente complexas de modo bem econômico, sem precisar elaborar sistematicamente os detalhes. Isso é foda.

Acho que é uma pena que esse estilo” é subvalorizado, pois de certa forma sinto que sua habilidade é levar parte do pensamento a uma dimensão do inteligível [enquanto pensadores do pólo oposto, técnicos, talvez expandiriam o inteligível ao ir além dele].

Uma nota: chamá-los de vulgar não quer dizer que eles não tem perícia, mas apenas que parecem aplicá-la a um outro objetivo expressivo. Isso fica bem claro pra mim quanto à Cassin que enquanto classicista pode ser hipertécnica, mas no filosofar parece mais vulgar (é um elogio).

November 15, 2020

Uma questão sobre a ideia da filosofia como socialização

Eu acho que filosofia é uma prática socializante (sobretudo como movimento de construção de um campo comum). Mas parece que isso é bem difícil acontecer quando o comum é já algo pre-existente (parece que o que surgem são então nichos, categorias que parecem mais mercadológicas).

Por isso que pergunto o que produz essa convergência se o comum não está explicitado, se ele não está aberto (como um conjunto de conceitos ou ideias que gera convergência). Não poderia ser esses conceitos pois ele já teria que existir antes de certa forma (como produto final).

Acho que por isso também tenho pensado muito em termos de procedimento. O procedimento não dá seu resultado mas ao mesmo tempo é algo positivo que pode permitir essa comunidade a se encontrar e se entender (se reconhecer”).

November 14, 2020

Os dois tipos de transmissão filosófica

Tenho pensado como a filosofia se dá entre dois extremos de transmissibilidade que é a hiper-compactibilidade do anedótico (Diógenes Laércio e como ele transmite filosofias resumidas nas fofocas dos filósofo) e uma hiper-sensibilidade (pensando no nível de minúcia de um Kant).

O primeiro circula fácil. É muito doido como as histórias meio que trazem de forma sintética a visão de mundo ou uma certa gramática de navegação apesar de curtinhas. Parece que ali tem algo que na história contada que não se deixa esgotar por não ser tocada positivamente.

Por outro lado o segundo parece que é por natureza intransmissível pelo excesso de positividade. Só pensar no monstro que é a Crítica e a maneira que ela parece resistir reduções e simplificações, quase como se não fosse feita para nós mantermos ele inteligível aos nossos olhos.

O que fico pensando é que esses dois pólos (que parecem se opor) talvez não precisem ser tomados como ideais absolutos (como se uma boa filosofia tivesse que tender para um lado ou para outro), mas como formas de expressão diferente conforme a situação ou o interesse.

November 10, 2020

Sobre a leitura de Kittler de O Banquete

Se você forçar bem os olhos o ensaio Eros e Afrodite” de Kittler é um ensaio sobre como um político fracassado (Alcebíades) se vingou de um amor não correspondido (ao Sócrates) ao condenar a filosofia a ser uma mera arte sedutora que embriaga e paralisa seus ouvintes.

Isso faz ainda mais sentido se a gente olha pra como discursos filosóficos/teóricos atuam nas redes. Boa parte das vezes parece que teoria/filosofia acaba mais apaziguando os ânimos do que incitando os corpos a uma ação política concreta.

Como se a simples adesão a um conjunto de teorias/ideias com teor político permitisse delegar qualquer ação ao conceitos dessa teoria e autorizassem que a pessoa em questão permanecesse na mesma posição em que estava antes de adotar tal ou tal discurso.

Claro que dá pra entender a condição de esgotamento material do mundo atual que faz com que essa preferência da via discursiva seja desejável. Mas o que Kittler mostra bem (embora talvez eu force o texto) é uma espécie de subversão da potência da fala em nome de uma regulação.

November 1, 2020

A distância entre a nossa percepção e a quantidade de informações que nos chegam

De fato é um drama que a nossa percepção não esteja a altura de conseguer recolher a quantidade de informação que chega a até nós. É simplesmente impossível conseguir abarcar tudo.

Por um lado os meio técnicos que permitem processar e organizar esse excesso até existem (são criados etc), por outro o seu processamento acontecer em uma escala além da nossa capacidade acaba nos excluindo do processamento, nos forçando a abdicar da compreensão do que se passa.

É como se a gente precisasse abrir mão de entender certas coisas? De que precisariamos conseguir compreendê-las para conseguir participar delas?

Isso parece meio contra intuitivo pra como percebemos usualmente, pois parece ser fundamental entender as coisas, conseguir visualiza-la na cabeça, produzir um discurso sobre que a torne inteligível.

Mas talvez seja apenas uma confusão que deixe de lado a especificidade dessa operação da percepção. Talvez não é que a compreensão seja necessária à participação nas coisas EM GERAL, mas é que a compreensão seria a forma de lidar com o que é do nosso tamanho via a percepção?

Agora o interessante é que já fazemos várias coisas que também são participações que dependem da abdicação da compreensão. Eu acho que em alguma medida a boa filosofia já é isso (mas como exatamente eu ainda tenho tentado descrever). A arte também, quando lida com excessos.


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