July 7, 2022

A importância da matemática no ensino básico

Lendo o livro da Cheng e confirmando ainda mais minha impressão de que colégio deveria ser consagrado à matemática, escrita, ginástica e projetos livres a partir dos interesses dos alunos e capacidades dos professores. O resto das matérias apareceria nesse encontro.

ginástica foi a minha forma de ser platônico e relembrar a ideia de que deve-se educar a alma com música (matemática) e o corpo com ginástica.

Ah, mas e as outras matérias? foda-se. Foda-se as justificativas que em 95% dos casos acabam sendo apenas formas variadas de protecionismo. Até pelo fato de que tem tanta coisa interessante que não entra em colégio por já ter um grupo de disciplinas estabilizado.

Mas claro, isso é utópico, eu sei. Não tou propondo que uma reforma de ensino médio seja construída ipsis litteris nessas bases, mas que se você realmente for ver, aí você consegue ter certas atividades suficientemente interessantes: ordenação, transmissão, movimentação e desejo.

É absolutamente insano como colégios são construídos (sei que é chover no molhado). Mas não faz o menor sentido, tem que começar do zero essa porra (mas não dá pra fazer do zero, pois além dos alunos tem toda uma enorme quantidade de docentes formados para um sistema anterior).

July 5, 2022

Um grupo de leituras sem leitura

Hoje tive uma sensação (junto com o @renzocom e o Vinicius) de entrar num território nunca antes habitado. Fico com a impressão de ter sentido algo próximo aos primeiros exploradores das geometrias não-eucliadianas, a percepção de que algo óbvio é apenas um caso num espaço maior.

Faço grupos de leitura há anos, de muitas formas, mas hoje foi diferente. Em nosso grupo de leitura do Projeto de uma psicologia” do Freud, passamos hoje o tempo inteiro não comentando o texto. Iniciamos nele, mas rapidamente fomos para tudo e qualquer coisa menos ele.

Isso é algo normal. Acontece. Tem dias que simplesmente há coisas mais interessante, que há algo que está nos incomodando. Bola pra frente, no próximo encontro retornamos. Mas ao final do encontro, algo diferente aconteceu quando o Renzo sugeriu que deveríamos seguir adiante.

Nesse momento dois caminhos despontaram: Repetir o encontro, ler o mesmo trecho combinado, ou seguir, agir como se nada tivesse acontecido: ou melhor, agir como se o propósito já tivesse acontecido (a leitura). Pois bem, demos esse passo, vamos tomar como lido” o não discutido.

Nesse momento que bateu, que caiu a ficha. O grupo de leitura é um esforço para lermos algo que não leríamos sozinhos. E isso de fato aconteceu. Lemos, cada um fez sua parte. Mas isso não significa necessariamente que o lido precisa ser discutido. Foi isso que descobrimos.

Os encontros em que discutimos o livro são apenas um tipo específico que podemos ter entre todas as formas possíveis de grupos de leitura. E com isso vem uma sensação de liberdade ao nos permitirmos livre-associar, de assumir que apenas de vez em quando comentaremos o livro.

Não sei aonde chegaremos com isso (se aguentaremos os perigos dessa nova situação!), mas sei que de alguma forma jamais olharei para grupos de leitura da mesma forma. Uma fronteira foi ultrapassada e podemos agora ver que de fato que o que tomávamos como a regra era apenas caso.

July 5, 2022

Um comentário sobre a pluralidade de mundos

Comentário crítico sobre algo que estou lendo mas que não posso comentar explicitamente: o problema de certas análises comparativas é que na afobação de mostrar que existem muitos mundos” (claro, tá certo), deixa-se como ponto-cego porque certos mundos se propagam mais.

Que há muitas formas de se relacionar com o mundo me parece uma afirmação em certo ponto trivial (ela foi, porém, materialmente destrivializada, talvez). O que me parece interessante é 1) entender porque uma forma tem predominado mais e 2) o que faz uma forma ser preferível.

Isso não significa definir de uma vez por todas” qual a melhor forma de todas (acho que inclusive o livro do @OrangoQuango sobre organização deixa esse problema bem claro no que toca à questão da organização), mas de fato trazer esse problema à tona como questão situacional.

Fica ainda uma distinção pendente (que pra mim é o resultado direto de outro texto que também não posso explicitar mas que em breve nas melhores casas do ramo) entre a forma ser boa apenas por ela se propagar facilmente (seja qual for a condição) e ser boa pro que queremos.

July 4, 2022

Sobre o problema do parentesco

Olhar pra dissertação do jovem Rafael e dizer pra ele que ele entendeu tudo errado pois não conseguia entender (apesar de tentar) o sentido e a importância do problema do parentesco.

De fato tem coisas que só vão aparecendo e encaixando com o tempo.

Não acho que isso seja um acaso ou um defeito, não era um déficit teórico, acho que tem algo mesmo da maneira como questões de socialização foram aparecendo pra mim ao longo dos anos (sobretudo desde que fiz a dissertação).

Pessoalmente nos últimos anos uma das coisas mais libertadoras pra mim tem sido perceber que não entender certas coisas não tem a ver com carga de leitura, erudição (e eu sempre tive um misto de voracidade ambígua nessa área: metade compensação de uma falta, metade gosto mesmo).

Dá um pouco mais de liberdade (ainda que não deixe de ter um pouco de sofrimento) poder distribuir melhor as razões de eu estar numa onda meio voraz bibliográfica (mesmo quando caio no caso de estar tentando compensar algo” fica diferente).

June 29, 2022

O gênero das meta-análises de conjuntura”

Gostaria de (ter tempo para) fazer um perscurso de estudo sobre um gênero” que na falta de termo melhor estou chamando de meta-análise de conjuntura”. Ele tem uma pré-história que pra mim se encontra formulado de maneira dispersa e depois clara na obra do Paulo Arantes.

Sobretudo em dois textos que acho chave no O novo tempo do mundo”. O primeiro é o texto-título, que faz uma análise da era das expectativas decrescentes. O segundo é o Depois de Junho a paz será total”, que fecha o livro e discute os caldos que formaram (e deformaram) junho.

Ele não é o criador disso (acho que isso está espalhado na tradição da esquerda, Marx, Luxemburgo, Lenin etc). Acho que o Paulo Arantes é um ponto a mais na série desse campo”. Ele dá uma forma para esse tipo de análise que ao menos pra mim deixou claro o valor de um bom mapa.

Não se trata, porém, de uma simples análise de conjuntura (embora essa distinção esteja por fazer). Esse tipo de análise (que acho que estamos tateando cada vez mais no Subset of Theoretical Practice) acabou resultando (do meu ponto de vista) no Atlas: https://www.sum.si/journal-articles/atlas-of-experimental-politics

Sei que tenho voltado bastante por esse texto, mas é pela riqueza das distinções e das capacidades de ver que tenho sentido nesse esforço de construção coletiva. Muita coisa ainda para ser desdobrada, mas são uns fincos no chão iniciais que podem ser muito ampliados ainda.

June 23, 2022

O esquecimento do autor da Gramatologia

As vezes eu gosto de pensar que só conseguirei reler a Gramatologia e A escritura e a diferença” (e aproveitar esse livro de uma forma que até acho que tem potencial) quando eu conseguir separar mentalmente o Derrida dessa época do que ele virou depois.

Nada contra, tenho até amigos que gostam, gente muito respeitada que acabo respeitando demais. Mas por aqui bate uma preguiça do personagem (“se perdeu no personagem”) que acaba virando mesmo quando fala coisas legais e interessantes.

Sonho então com esse momento em que lerei a Gramatologia como um livro escritor por um autor que depois nunca mais acabou escrevendo nada ou que tudo que publicou foi meio que ignorado pela tradição.

Disclosure: tive uma fase derridiana na graduação (inclusive meu segundo artigo publicado era sobre Derrida e Vila-Matas), mas acho que na época estava longe de ter um aproveitamento satisfatório das boas ideias que tem na sua obra (eu era muito deslumbrado com blanchotianismos).


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