July 5, 2022

Um grupo de leituras sem leitura

Hoje tive uma sensação (junto com o @renzocom e o Vinicius) de entrar num território nunca antes habitado. Fico com a impressão de ter sentido algo próximo aos primeiros exploradores das geometrias não-eucliadianas, a percepção de que algo óbvio é apenas um caso num espaço maior.

Faço grupos de leitura há anos, de muitas formas, mas hoje foi diferente. Em nosso grupo de leitura do Projeto de uma psicologia” do Freud, passamos hoje o tempo inteiro não comentando o texto. Iniciamos nele, mas rapidamente fomos para tudo e qualquer coisa menos ele.

Isso é algo normal. Acontece. Tem dias que simplesmente há coisas mais interessante, que há algo que está nos incomodando. Bola pra frente, no próximo encontro retornamos. Mas ao final do encontro, algo diferente aconteceu quando o Renzo sugeriu que deveríamos seguir adiante.

Nesse momento dois caminhos despontaram: Repetir o encontro, ler o mesmo trecho combinado, ou seguir, agir como se nada tivesse acontecido: ou melhor, agir como se o propósito já tivesse acontecido (a leitura). Pois bem, demos esse passo, vamos tomar como lido” o não discutido.

Nesse momento que bateu, que caiu a ficha. O grupo de leitura é um esforço para lermos algo que não leríamos sozinhos. E isso de fato aconteceu. Lemos, cada um fez sua parte. Mas isso não significa necessariamente que o lido precisa ser discutido. Foi isso que descobrimos.

Os encontros em que discutimos o livro são apenas um tipo específico que podemos ter entre todas as formas possíveis de grupos de leitura. E com isso vem uma sensação de liberdade ao nos permitirmos livre-associar, de assumir que apenas de vez em quando comentaremos o livro.

Não sei aonde chegaremos com isso (se aguentaremos os perigos dessa nova situação!), mas sei que de alguma forma jamais olharei para grupos de leitura da mesma forma. Uma fronteira foi ultrapassada e podemos agora ver que de fato que o que tomávamos como a regra era apenas caso.


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