March 23, 2020

Mais comentários sobre os textos de covid de Agamben

Conversando ontem com o @gtupinamba ele sugeriu que os coronatextos do Agamben (como sua obra) deveriam ser encarados como uma formulação contemporânea do problema da boa vida, o que ajude a deixar de lado alguns dos problemas técnicos no seu conceito e dar força pro que ele diz.

E de fato, por mais que a questão da epidemia seja algo que ponha em risco vidas, ao mesmo tempo o luxo que nos damos é que só sobreviver não é o suficiente (fico pensando no Epicuro preocupado em encontrar o limite mínimo do prazer). Isso aparece no sofrimento de quem tá bem”.

O que Pierre Hadot estaria dizendo sobre Corona me interessa pois se tem alguém que faria algo bom era ele. Imagina um post no blog do Hadotzin listando exercícios espirituais para a quarentena.

Inclusive (e essa lembrança devo à conversa com amigos ontem), sem o problema da boa vida o pensamento não é nada. Pois é justamente a defesa do maior dos luxos. Agora, claro, eu mesmo acho que tou pro lado mais radical, tendo a achar que o isolamento deve ser radical etc etc.

Ainda assim fico com a pulga atrás da orelha, pois se alguma contribuição a disciplina pode fazer pro momento tem a ver também com a imposição dessa questão como algo essencial (mas que aparece como suplemento), e não meramente um complemento possível. O problema é a conciliar.

March 21, 2020

Alguns problemas reais nas intervenções problemáticas do Agamben no início da pandemia

Eu não consigo concordar com esse escracho ao Agamben. Claro que os textos tem problemas, mas mesmo que as soluções sejam bobas (e que ele menospreze um pouco a dimensão da doença), ele aponta pra questões/problemas reais que poderiam fazer parte das conversas.

Falo aqui mais da mobilização inquestionada de aparatos biopolíticos que são desejados pelas populações (afinal, nós vemos e queremos as quarentenas, mas isso não significa que querer isso ~em nome da segurança~ pode conter elementos perigosos na redeterminação do que é viver).

É tosco e óbvio o que vou falar: mas parece que se vai nesses textos sedento ou de uma >chave de leitura< ou realizar um ódio ao texto. E tudo bem, também faço isso, mas talvez justamente por isso a coisa é tentar entender que o mérito desses textos não estaria num acerto”.

Não sei dizer o que acho bom nesses textos quando acho eles bons. Na verdade sei, mas é o próprio luxo da filosofia, eles ajudam a pôr a gente na trilha do pensamento, no >diálogo da alma consigo mesma<. Não trazem jamais soluções práticas mas nos põem a pensar (e isso é bom?).

É ruim no sentido de que pensar parece sempre algo voltado pra si mesmo, que nos leva pra fora da realidade, em alguns casos até pra dimensão do eterno (que é sempre esquisito, pois parece fora de lugar, inútil”) . Algo narcísico que apenas nos tira do chão e traz pra filosofia.

Ao mesmo tempo, pra além do gozo que tem no próprio pensamento, acho que esse sair da concretude em direção aos conceitos podem trazer bons efeitos. Primeiro que nos permite encontrar e formar padrões que nos situam para além do momento atual (o valor disso seriam outros 500).

Além disso, esse tipo de atividade, ao nos levar para o plano do pensamento, pode nos permitir, especular a partir de uma escala mais simples (?).Trataria-se de uma espêcie de simulação que poderia formecer alguma orientação sem que sua tradução concreta seja dada.

Eu certamente tou longe de mergulhar nisso ainda, mas acho que o Reza Negarestani tem boas pistas (mas não sei se concordo com tudo) sobre isso no blog dele nos posts sobre toy philosophy”: https://toyphilosophy.com/2018/02/02/toy-philosophy-universes-part-1/

March 16, 2020

Uma proposta para um enigma na obra de Paulo Arantes

Acho que eu entendi algo do Paulo Arantes que ajuda a entender essa questão: Um enigma sobre a obra de Paulo Arantes. Em breve num artigo tosco. Basicamemte ele faria essa virada pra explodir o sonho da visão triunfalista da cultura nacional presente desde o modernismo (de Freyre e Mário aos que tentam reviver isso agora).

Pra quem quer trilhar esse caminho: Nação e reflexão” (no Zero à esquerda), seguido das análises sobre USP e sobre Candido, Schwarz, Gilda de Mello e Souza, Lucio Costa etc. Situar depois a tradição do Pensamento Social Brasileiro como pertence te ao movimento de um progresso.

Depois é só reconstruir a destruição do horizonte de expectativas (“O novo tempo do mundo”) pra deixar claro sua cilada e somar a isso as análises em Depois de junho a paz será total” que a partir de inúmeros trabalhos sociológicos implodem o sonho de um Brasil reconciliável.

March 16, 2020

O cultivo difícil da filosofia socrática

O exercício socrático que não foi (pois difícil) suficientemente internalizado é a disposição de aceitar que a sua posição atual não coincide com a sua posição final (sem entrar no mérito se a posição final é possível ou ideal).

Fazer isso é fácil entre amigos. O difícil é conseguir praticar esse exercício diante de um inimigo ou de alguém que somos indiferente. É aceitar que mesmo quando a crítica do outro vem repleta de problemas que ela ainda pode ter algo que possa vir a retificar a nossa posição.

E isso é um exercício no sentido do Pierre Hadot mesmo. Não é algo natural, é algo que, dentro das nossas condições, podemos e devemos tentar praticar de modo até arbitrário. Ainda mais que o ponto de veracidade de uma crítica equivocada não está dado de antemão.

É o que me incomoda na posição de quem recusa em bloco uma posição pelo simples fato de ela cometer certos elementos que apontariam diretamente para um possível erro nosso (isso ocorre na esquerda e direita, entre conservadores e liberais, entre esquerdas mais ou menos radicais).

March 10, 2020

Um enigma sobre a obra de Paulo Arantes

Coisas que gostaria de entender: a transição que ocorre na obra do Paulo Arantes entre (um abandono d)os estudos institucionais” (Ressentimento da dialética; Um departamento ultramar) e as esquisitas análises de conjuntura (filosofia da história, eu chamaria) que ele tem feito.

Tem uma coisa importante que eu acho, mas que eu gostaria de analisar. Acho que é justamente o fato dele ter ficado enfurnado nessa relação entre filosofia, (ine)eficácia e instituições (“antifilosofia”?) que permitiu ele elaborar a filosofia da história de modo até solto.

March 5, 2020

Sobre a relação entre desejo e saber na filosofia

Acho que é inegável que há uma relação forte entre desejo e saber que é constitutiva da filosofia. Eros é sem dúvida um elemento fundante da atividade e O Banquete do Platão é um fato que atesta isso com bastante força.

Mas pensando aqui, talvez seja preciso distinguir entre diferentes níveis desse desejo. Acho que há claro um desejo do sujeito filosofante, o seu amor ao saber (seja como for esse amor ao saber, seja como ele varie a partir da maneira que o sujeito se constitui e é constituído).

Por outro lado há um desejo imanente ao próprio saber”. Eu acho que as constrições (limites?) lógicas” que surgem no campo do saber (desde os impasses no Parmênides ou os impasses da crítica Kantiana) atestam para um movimento próprio à abstração que implicaria outro interesse.

Por fim acho que tem interesses institucionais que mediam as relações entre o sujeito filosofante e a própria filosofia. Aqui entrariam tanto instituições concretas como escolas, a igreja, universidades etc, como bolsões mais amplos e menos materiais como tradições ou correntes.

Talvez a dificuldade de navegar tenha a ver com o fato de que nem sempre esses interesses se alinhem, muitas vezes eles entrem em conflito.

Enfim. Apenas umas >>hipóteses<< para procrastinar o texto que tou escrevendo.


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