March 16, 2020

O cultivo difícil da filosofia socrática

O exercício socrático que não foi (pois difícil) suficientemente internalizado é a disposição de aceitar que a sua posição atual não coincide com a sua posição final (sem entrar no mérito se a posição final é possível ou ideal).

Fazer isso é fácil entre amigos. O difícil é conseguir praticar esse exercício diante de um inimigo ou de alguém que somos indiferente. É aceitar que mesmo quando a crítica do outro vem repleta de problemas que ela ainda pode ter algo que possa vir a retificar a nossa posição.

E isso é um exercício no sentido do Pierre Hadot mesmo. Não é algo natural, é algo que, dentro das nossas condições, podemos e devemos tentar praticar de modo até arbitrário. Ainda mais que o ponto de veracidade de uma crítica equivocada não está dado de antemão.

É o que me incomoda na posição de quem recusa em bloco uma posição pelo simples fato de ela cometer certos elementos que apontariam diretamente para um possível erro nosso (isso ocorre na esquerda e direita, entre conservadores e liberais, entre esquerdas mais ou menos radicais).


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Uma proposta para um enigma na obra de Paulo Arantes Acho que eu entendi algo do Paulo Arantes que ajuda a entender essa questão: Um enigma sobre a obra de Paulo Arantes. Em breve num artigo tosco.