April 19, 2020

Sobre um tipo de fim de amizade

Eu acho impressionante como laços podem ser feitos e/ou desfeitos a partir de divergências do que se pensa. Falo em termos de amizades. Ainda que pensar seja talvez a coisa que seja mais central na minha vida, ainda surpreende que isso tenha força pra alterar como nos sentimos.

Lembro de algumas pessoas na minha vida com quem nunca briguei ou tive um problema, ou tive uma interação espinhosa, nunca houve falta moral observada. Nos aproximamos por algumas conversas mas, como as vezes as pessoas mudam ou permanecem, também nos afastamos por como pensam.

Não gosto, nem me orgulho disso. Na verdade não sei o que pensar. É esquisito que certos sentinentos comezinhos possam começar a surgir e te dominar aos poucos só por ver uma pessoa que já foi próxima agora pensando de forma bem distante de você.

April 17, 2020

História da filosofia como anti-modismo

Acho que uma das virtudes da história da filosofia (enquanto procedimento) é funcionar como uma espécie de força anti-moda. Uma leitura desapaixonada dos autores que permite que eles sejam acessados para além do seu valor na bolsa de valores dos buzzwords filosóficos.

É por isso que acho que tem um fundo de valor o diagnóstico uspiano de que a filosofia no Brasil era muito refém de modismos, um ecletismo vazio (ainda que a solução seja complicada). Parece ser um pouco do que vemos por aí: afã de apagar certos nomes por usarem termos errados”.

April 5, 2020

Sobre desejar a morte de outro

Meu pitaco (que ninguém pediu sobre o assunto de hoje: Desejar a morte do outro não é tanto algo que a gente tem ao nosso controle. Na verdade policiar a >origem< desse impulso soa muito problemático e deve ser a fonte de inúmeros problemas que as ciências da psiquê vão lidar.

Talvez mais do que refrear esse impulso (que como o que é da ordem do desejo é algo que sentimos, não algo que voluntariamente criamos/elaboramos), seja pensar como lidar com ele após seu aparecimento, refletir sobre ele, sobre sua fonte e seus problemas sem negar que apareceu.

Caso contrário o risco é postular um modelo de santo. Alguém que não sente nada de ruim, visto que ter dssejos incontrolados impuros já seria a fonte do pecado. Por isso acho que é atingir um equilíbrio entre aceitar que se sentiu isso sem por isso tomar como verdadede absoluta.

Não é porque desejamos que isso é bom (inclusive Espinosa já dizia algo parecido no início do livro III da Ética). O desejo é uma parte de nós mas não precisa constituir toda a nossa verdade. É pra ajudar nisso que deveria servir algo que podemos chamar de razão.

April 3, 2020

Sobre luxo e boa vida

Tenho pensado muito na necessidade de se pensar e defender o luxo que é procurar uma boa vida num momento merda/precário. Claro que isso já é feito de uma posição de luxo (algo afirmado desde Aristóteles ate a Wark no texto sobre coronaceno), mas isso não diminuo a importância.

Na verdade, talvez o que a filosofia pode contribuir (e aqui me aproximo do Agamben?) seja justamente mostrar como abrir mão da pergunta pela boa vida - sobre o que a constitui, sobre como buscá-la - é no fim um luxo que não possuímos, visto que não deixamos de viver essas vidas.

Pensando muito nisso pois estou metido nos 11 primeiros parágrafos do Tratado da Emenda do Intelecto, um dos trechos mais brilhantes, fortes, instigantes e emocionantes da história da filosofia, que põe justamente o problema da inevitabilidade da pergunta pela boa vida.

April 3, 2020

Sobre as dificuldades da amizade

Penso de vez em quando naquelas pessoas que cê quer ser amigo mas não consegue. Também penso naquelas que querem ser suas amigas e você é que não quer. Sempre desagradável ambas as posições pois tornam ainda mais esquisito pensar o que é uma amizade que vinga.

Posso falar evidentemente do meu caso. Geralmente o que me incomoda, e me faz não retribuir, é quando vejo uma unilateralidade, quando o desejo é mais de distribuir do que compartilhar, quando a pessoa quer a atenção minha apenas para alimentar o eu dela. Mas isso é otimismo meu.

Pois certamente não esgota os casos, já que tem também alguns casos em que simplesmente não tem liga e a coisa não sai (mesmo com a outra querendo). Rola até uma culpa nesses casos, mas diferente de quando é um amor não correspondido? Pois não deveria ser difícil.

É chato quando acontece. Eu fico meio sem saber, mas como tenho uma certa timidez eu acabo meio que aceitando e ficando chateado só. Me incomoda que algumas pessoas reajam com ressentimento, como se você devesse algo apenas por você ter tido abertura/conexão com outras pessoas.

Uma coisa que eu gosto especialmente são aquelas pessoas que a amizade potencial está ali mas ela nunca é atualizada por falta de circunstância. É como se o próprio laço, mesmo que nunca chegue a se desenvolver, já dê um outro tom pra coisa (mesmo que falte tempo, contato etc).

April 1, 2020

Comentários sobre a transição irrefletida do ensino presencial para o ensino a distância no início da pandemia

Já é complicadíssimo aluno lendo texto pelo celular (disponibilizo pdf e xerox). Sei que tem a coisa do acesso e só isso já é muito bom, mas me dá uma dó, na aula, ver os alunos enfiando a cara no celular dando zoom para acompanhar comentários de certos trechos.

Não consigo evitar achar que ler uma certa quantidade de textos enormes (e textos muito densos) pelo celular (em formatos PDF - pois em caso de epubs/mobi você tem alguns recursos, mas poucas coisas tão disponíveis assim) acaba empobrecendo a leitura.

Tem algo que me incomoda também que parece que é falta de vontade” dos professores resistir a esse tipo de transição. Acho que estimular atividades extra-oficiais nesse momento é bem mais rico e interessante do que simplesmente retomar as aulas”.

E ainda haveria toda uma enorme conversa a se ter sobre tempo perdido” que será o semestre 2020.1. Para começar acho que esse afã de retomar aulas, que vejo no mundo anglo, é um sinal de um perigoso esforço de normalização de uma situação que mal deu as caras.


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