January 7, 2021

Más leituras na filosofia

Quando a gente aceita que existem más leituras na história da filosofia (inadequadas, factualmente problemáticas) e ainda assim elas não são necessariamente ruins a gente fica meio sem chão pois precisa conseguir explicar então que uma leitura pode ser produtiva sendo errada.

O difícil nessa situação é que se perde um critério facilmente identificável e essa ausência de critério é as vezes mobilizada de modo perverso pra perpetuar leituras problemáticas ou até para proteger desnecessariamente certas leituras produtivas mas com limitações.

As leituras que o Nietzsche faz são bem erradas em termos de adequação e ainda assim eu fico com a impressão que ele acerta algo. A mesma coisa do Deleuze quando critica Platão ou Hegel. Esses autores me forçam a repensar o que é que está em jogo quando se faz críticas.

Pois por um lado eu acho que é ruim quando essas leituras erradas” são mobilizadas para bloquear eventuais leituras, como nas críticas de Deleuze a um Hegel (suas ou de outros — o que é diferente de dizer que se é obrigado a ler tudo, dá pra ser indiferente).

Por outro lado acho que — para além da discussão que o alvo as vezes é uma certa recepção, como no caso de Deleuze com Hegel — acho que muitas vezes o retrato errado ajuda a contrastar melhor as posições positivas de um autor. Aí então seria questão de não comprar totalmente.


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Sobre o termo “ocidente” Eu tenho o sonho de um dia pesquisar e escrever algo sobre os usos do termo “ocidente”/“ocidental” na filosofia. Eu tendo a achar que é mais uma