June 15, 2021

Amar mais de um autor

Minha única sugestão pro estudo de filosofia é aprender a amar mais de um autor (e não resolve simplesmente amar outros autores que encaixem na mesma narrativa).

Não é a única, obviamente. Mas é uma que acho importante. Não é que se precisa ser absolutamente eclético (vai de cada um). Mas existe uma armadilha em se prender a uma gramática filosófica que é não conseguir observar que existem outras formas de pôr problemas.

June 15, 2021

A nebulosa segunda metade do século XIX na filosofia

Pra mim o período mais esquisito e nebuloso da história da filosofia recente (isto é, aquele que tenho mais dificuldade em reconhecer autores e obras) é 1850-1900 (que mais precisamente seria o momento pós-hegel e pré fenomenologia/frege/pragmatismo/neokantismo americano).

Claro que posso verificar quem viveu esse momento olhando as wikipedias da vida. Mas a segunda metade do século XIX, à distância, sempre me pareceu um estranho interlúdio ocupado sobretudo por figuras antifilosóficas*: Nietzsche, Marx, Kierkegaard.

Só depois de muito tempo que fui encontrar a hipótese do Paulo Arantes de que 1848 é o momento (ou apenas a explicitação da situação) em que a filosofia perde seu objeto.

Devia estar trabalhando (acordei para isso), mas estou procrastinando tentando entender algumas obsessões minhas.

idée fixe que chama.

*termo a ser definido

June 13, 2021

Tentando me entender com Deleuze

Tava dando uma olhada nos vídeos do Deleuze no abecedário que tem no youtube e fico pensando que preciso de tempo pra reler umas coisas dele e tentar entender o que nele tem me deixado desgostoso apesar de achar um dos pontos luminosos do século xx (não a toa tá na minha tese).

A ideia seria então reler com calma o Diferença e Repetição, O Anti-Édipo e o Mil Platôs, que é onde acho que se concentra o grosso do que ele fex de interessante. Mas queria fazer isso não com uns olhos (como já fiz) de quem procura a teoria mais fértil num vácuo.

Acho que em parte é tentar ler aquilo ali a partir da crise referencial que move ele e que ele acaba mapeando. Ler o Deleuze contra uma certa tendência de endeusar e tratá-lo como gênio (algo que já fiz demais, implicita ou explicitamente), mas vendo o que ele inteligibiliza.

Até pra ver o que sobra ali para além de disputas institucionais ou de concursos de melhor metafísica”. Enfim, não é nada muito complicado, pois envolve tentar ler com um pouco mais de atenção e um pouco menos de afobação.

Até acho um pouco vergonhoso se dar conta do tipo de engajamento que se estabelece com autores que te estimulam e seduzem. Por outro lado acho que também é uma sedução inevitável, dado a forma como a filosofia se constrói e se comunica.

É como se fosse uma tendência natural (pelo menos da pra identificar isso ocorrendo de diversas formad ao longo da história institucional da filosofia) essa inversão em que o elemento teórico inteligibilizador se torna ele o objeto que deve ser inteligibilizado.

Mas tomar como algo mais ou menos natural passa por também tentar aceitar que esse movimento (que não se supera de uma vez por todas) não é em vão e que faz parte do esforço de voltar os olhos pro que se que inteligibilizar, como um risco que sempre se passa ao se filosofar.

Claro, pode ser também que tudo seja só também uma forma sofisticada de dizer que tem coisas cringe no Deleuze que identifico em mim e gostaria de me afastar. Mas até pra isso é preciso em alguma medida compreender (mas aí deixo pra análise haha).

June 13, 2021

A nomeação excessiva na filosofia

Nunca é um bom sinal na filosofia (ainda que as vezes difícil de avaliar) quando se torna mais importante o nome que se dá as coisas do que ao que se está de fato fazendo (quais relações se está juntando, que tipo de inteligibilidade se obtém etc).

Até entendo a função de nomear etc., como ajuda gente situar as coisas, criar cadeias históricas (ou marcar descontinuidades). Mas há um ponto fácil de cair em que os sinais se invertem e o mais fundamental acaba virando o nome que se dá (deixando a operação de lado).

June 12, 2021

Leituras ruins de filósofos

Uma coisa que acho maravilhoso em leituras” de filósofos é que não apenas leituras ruins (isto é, imprecisas, simplificadoras ou até equivocadas) podem ser bem férteis, como também podem ajudar (pelo erro”) iluminar aquele objeto que elas leem de maneira ruim.

Nietzsche é um péssimo leitor em termos historiográficos”, mas suas leituras muito provavelmente sáo mais férteis pra entender seus objetos do que boa parte das leituras precisas. O mesmo eu acho que dá pra dizer também das leituras do Aristóteles sobre Platão.

Ao mesmo tempo não significa que qualquer leitura tem essa capacidade. De alguma forma eu acho que isso se relaciona com a dimensão não histórica da filosofia. Mas acho que a justificativa desse ponto demanda uma ideia sobre o tempo da filosofia que ainda não entendo bem.

Isso eu acho que tem implicações pedagógicas profundas. Mas acho que é difícil saber como lidar com isso sem ser na base da tentativa e erro (ou talvez nem tenha outra forma).

June 10, 2021

Uma filosofia analítica materialista?

Existe alguma história da filosofia analítica materialista? Tenho pensado muito nos positivistas lógicos socialistas (Carnaps da vida) chegando nos EUA e tendo as raízes/impulsos materiais dessa filosofia sendo abafados pelo macartismo.

Na verdade acho que a questão que me interessa também é: o que se torna essa filosofia uma vez que os impulsos de transformação política sejam retirados dela? Uma máquina de papers e pseudo-problemas (com exceções, claro).

Fico pensando também no surgimento da escola de ordinary language philosophy (que conheço pouquíssimo) mas que fico curioso para entender o substrato material que tá implicado nessas ênfases e na coisa ter ganho tração institucionalmente.

Dois esforços coletivos de construir uma história da filosofia que gostaria de participar (e que só podem ser coletivos):

  1. uma história da filosofia do ponto de vista do plattonismo (nota de rodapés);
  2. uma análise material (marxista) dessa história

← Newer Entries Older Entries →