December 16, 2018

A ilusão referencial da visão da filosofia dos olavistas

[Sobre um texto de Pedro Sette-Câmara criticando o desconstrucionismo nas universidades]

Dá pra complementar dizendo que o movimento que acontece no tema da filosofia [por parte desses olavetes] é bem simplório e nostálgico de uma realidade que não sei dizer se em algum momento existiu na filosofia. Vou só destacar alguns pontos:

Primeiro, fica bem claro na menção ao epicurismo que parte-se de um equívoco enorme sobre o que pode ser a filosofia. É bem besta o autor falar, como se fosse um absurdo alguém cogitar isso, que uma reflexão filosófica não possa ser informada por um conjunto de práticas.

Esse desejo de retornar às questões fundamentais às coisas mesmas”, além de ser um TOPOS hiper batido da história da filosofia, ele nem sempre significa falar diretamente e sem mediações dos grandes temas” que afligem à alma. Desde os diálogos socráticos de Platão se vê isso.

A filosofia as vezes pode ser desprezada e detestada por isso, por essa hesitação e pela escolha do caminho torto e oblíquo, mas se isso ocorre é por conta da maneira como a tentativa de refletir diretamente sobre esses problemas” é um convite para aporias e incompreensões.

Não é à toa que você não vai ver nenhum grande filósofo definindo de bate pronto o que é o belo”. E mesmo quando definem não raro a coisa é feita apenas como ponto de partida para uma complexificação posterior.

Reclamar do fato de que fazer filosofia é comentar texto” é fechar os olhos tanto para a realidade material imediata dos filósofos ao longo da história como também para a maneira como comentar textos” não pode ser reduzido a uma autorreferencialidade.

A filosofia não é um simples ato de perguntar, mas é uma ecologia de questões, problemas, técnicas e soluções que envolvem uma tradição e uma história. Comentar textos é uma das formas de realizar essa prática. Isso não foi inventado com a universidade, basta ver a escolástica.

Mesmo na antiguidade. Vixe, olhe Aristóteles, ele está o tempo inteiro comentando’ outros filósofos. Isso não significa que ele não realiza nenhuma especulação ou que ele não toque em questões relevantes e/ou importantes. Isso não faz sua obra menor, é apenas meio de expressão.

Me incomoda a maneira também como se compra acriticamente (ou sem qualquer explicação que justifique o apelo à responsabilidade’ que o próprio objeto do texto não segue) a noção de indivíduo, mas isso é uma discussão que não sei se cabe desenvolver aqui.

Não preciso nem comentar dos espantalhos que são as referências a uma tradição pós-moderna” [mas não nomeada diretamente] que só comenta textos sobre textos é mais um espantalho levantado né?

Enfim, sei lá. Me parece muito tacanho essa noção de filosofia. Me incomoda demais pois não dá nem pra chamar de um ensaísmo vulgar. Fica parecendo de fato em alguns momentos uma defesa do papo cabeça” de adolescente só que com requintes retóricos e eruditos.

Me incomoda demais essa maneira de pôr as coisas pois se acho que a filosofia tem algum interesse é justamente por complicar as coisas, por torná-las mais complexas e mostrar que não necessariamente o melhor caminho entre dois pontos é uma reta.

Talvez seja exagero, mas enfim. Fica aí o rant.

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