May 3, 2022

Uma defesa dos calhamaços em filosofia

Não deixem o @fabriciopontin atar aquilo que já está morto (vida longa aos calhamaços):

Falando sério (pois acho justa a provocação do Fabricio), acho que ao menos no campo da filosofia inexiste uma preocupação em compreender a nível institucional o que é que está sendo transmitido (e o que queremos que seja transmitido) nesses textos chamados de teses”.

Além do caráter prático (“sem tempo irmão”) e da ausência de um elemento pedagógico (ninguém vai te ensinar nada), acho que a gente não tem ideia do que é que a gente está fazendo com nossos textos, qual a finalidade deles e como isso se relaciona com a realidade do campo.

Claro que existe uma diversidade no que se chama de filosofia que não se pode conter em uma ou duas fórmulas. Mas a gente dificilmente entende para que ou para quem escrevemos. No fim isso explica ainda mais a falta de tempo pra ler, já que a coisa não endereça uma preocupação.

A maior parte das discussões ficam restritas a uns imperativos meio vagos (“devemos estudar o que QUISERMOS ou devemos estudar questões URGENTES) que ou te atendem profissionalmente (te inserem na grande roda da fortuna da bibliografia secundária) ou te deixam falando sozinho.

No fim das contas a escolha acaba sendo entre se inserir no mercado para arranjar um emprego (mas que emprego?) ou ser um lobo solitário que morre sozinho na praia (já que it takes a village to raise a child”).

Nesse contexto acho que faz sentido o desinteresse dos pares. Para quem quer se inserir no mercado é mais do mesmo pois não passa de ser algo que já foi lido em algum momento. Para quem faz algo diferente raramente há uma gramática que conecte o leitor e daí ser tudo alienígina.

Enfim, foda.

Filosofia ainda tem esse problema que a gente está numa crise sobre suas referências desde o final do século XVIII (ainda que a filosofia hegemônica anglófona finja que está tudo bem e que eles falam de coisas”). Mas isso é um problema pro livro que estou tentando escrever.


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