Sócrates enquanto um fundador
Pensando no texto do Foucault sobre “O que é um autor?” (algo assim) e gosto muito quando ele põe Freud e Marx como >fundadores de um campo< de uma forma que contradizê-los não faz muito sentido. A coisa é bem mais complexa, mas gosto ainda da formulação, mesmo que reformável.
Falo isso pois tou cada vez mais convencido que o Sócrates entendeu que a filosofia não se tem conteúdo e que criação de conceito tem que ser pensada sob o prisma do que o Sócrates faz. O Sócrates talvez seja um grau zero pra compreensão da filosofia enquanto uma pura atividade.
Bem, e o que é um conceito sob esse prisma? Talvez aí entre o que tenho pensado a partir de Platão. O elemento conceitual, a ideia, não é nunca absolutamente enunciável, mas o que teríamos seriam discursos que apontariam para um elemento abstrato que “resiste” aos equívocos.
Essa coisa que resiste nos ensina algo, nos mostra, dá um pouco mais de complexidade (e navegabilidade) à realidade a partir de um movimento que dos equívocos consegue projetar um comum que nunca pode ser absolutamente positivado? Talvez algo nessa linha.
Quem é do meio (e quem acompanha discussões no âmbito do ensino de fil) sabe a praga que é a imagem da filosofia que o Deleuze legou de “criação de conceito”. Infindáveis textos da galera acha que vai chegar na sala de aula e >criar conceitos<, como se fosse juntar lé com cré.
Isso e a ideia de filosofia como “caixa de ferramentas” talvez sejam um dos piores legados da filosofia francesa pra vulgarização filosófica. Não que eu acho que discursos conceituais não possam ser remanejados, mas fica parecendo ser tudo sem atrito ou resistência.