November 10, 2018

Sobre os limites reprodução ampliada de discursos da esquerda

Me põe muito a pensar esse a demanda da esquerda querer imitar os mecanismos de reprodução e escala de discurso da direita. Não é que eu acho errado, mas acho difícil esses mecanismos não serem eles próprios mecanismos que afetam o processo. (Eu sei, pós-estruturalismo 101)

Acho fundamental a ocupação de espaços de atenção, mas quando vejo esforço sendo dirigido a esses mecanismos de emissão unidirecionais (ainda que, claro, há uma membrana mais porosa entre o youtuber e seu público do que no caso da tv e do seu espectador) fico preocupado.

Acho que o tipo de vida que isso tende a produzir pode ser efetivo em curto prazo, mas imagino que rapidamente os problemas da escalabilidade começam a aparecer sem que o problema da formação da subjetividade seja sequer tocado tocado (já q os meios de transmissão são os mesmos).

Sem contar que eu acho que esses meios de amplificação tendem a produzir dois tipos de sujeitos. O emissor, que ao se tornar centro acaba correndo graves riscos de acreditar ser maior que realmente é e, por outro lado, o público, que corre o risco de se tornar fanboyista.

Sobre o primeiro ponto, a minha posição talvez seja meio dura e seca, acho que o ego precisa ser limado desde o início. Acabar com qualquer possibilidade de culto à personalidade (algo que sabemos que é do que vive o lado de lá) sem por isso aplainar tudo (ou seja, um desafio!).

Por outro lado, o público, se é que é um público ainda, talvez fosse mais interessantes se fossem se tornando em participantes ativos (não como mera platéia que interage com o Silvio Santos ou sugere temas para as esquetes), produtores eles mesmos num processo de coemancipação.

meu medo nesse caso é sempre evitar o que vemos nessas culturas de fanboyismos, que me dão um pouco de medo desde que li sobre o John Green numa matéria da nyer: https://newyorker.com/magazine/2014/06/09/the-teen-whisperer

Talvez por isso tenho tendido a pensar na criação do comum a partir de práticas de atenção. Não tenho muito além disso, é algo que vi numa apresentação na ANPOF de um colega não-twitteiro mas que também fiquei matutando depois de conversar com um outro amigo meu.

O ego, me parece, é diametralmente oposto à atenção pois ele justamente impede do discurso e dos signos e atos circularem fora da direção estabelecida por ele. Tudo passa a ser referido ao emissor e não ao espaço construído conjuntamente.

Mas isso não é um problema apenas do emissor, mas do receptor que abraça o dogmatismo entre iguais (ainda que seja por uma justa proteção entre iguais diante de problemas reais!). Difícil dissolver isso (em parte filosofia pra mim é isso aí, mas isso sou eu puxando a sardinha?)!

Enfim, não sei. Talvez eu esteja exagerando (é o risco de ter ficado matutando isso sozinho só comentando aqui e ali com algumas pessoas sobre isso). Se alguém achar, não hesite em falar aqui comigo.


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