June 24, 2020

Sobre o descarte de ideias desconhecidas

Acordei pensando em como é fácil descartar ideias e teorias quando você não conhece muito. Claro que uma coisa é você se engajar com a coisa e ver que não é pra você, mas falo aqui das recusas orgulhosas que se dão sem grandes mergulhos. Obras hiper complexas chapadas.

São aqueles casos em que a pessoa até bate no peito pra dizer que nem leu mas já não gostou (ou conheceu tão pouco que pra quem conhece um pouco essa distância já fica visível). Tem algo que me incomoda nisso, num nível moral mesmo.

Pois de novo, o problema não é não ver que não é pra você, que você tá indisposto a se envolver naquilo, mas precisar recusar aquilo como o diabo foge da cruz. Acho que tem uma espécie de falta de disponibilidade e generosidade que me incomoda nesse tipo de gesto.

Uma generosidade que aceite que não é porque aquilo não diz nada pra mim que aquilo não possa dizer algo pra alguém. A generosidade estaria em saber entender que outras pessoas, com outros recursos e outros problemas podem tirar coisas dali que você sequer enxerga.

Pois não é o caso que muitas vezes a gente vê gente que gostamos/confiamos se engajado em pensadores e ideias que não fazem sentido para nós? Sinto que isso poderia funcionar como um sinalzinho. Não de que a gente precise mudar de posição, mas que aquilo pode ser mais amplo.

Eu até acho que por meio de relações afetivas nós conseguimos se abrir a outros tipos de pensamento, mas isso não é o que tou falando aqui. É a simples aceitação (ética?) de que a nossa posição talvez não seja a única forma possível de delimitar um campo de questões/problemas.

Complemento/recapitulação polêmico-hostil: acho bem ridículo qualquer pessoa descartando com um peteleco qualquer obra: isso vale pra Arendt, Heidegger, Deleuze, Derrida, Butler, Foucault, Badiou, Hegel, Spinoza, Kant e quem mais for.

Fica ainda mais ridículo quando se lança aquele Mas já fui x’”, como se isso fosse um fiador total. Em primeiro lugar: sim, se você já foi e não é quer dizer que não vê mais as coisas assim (critica mas não caga nos outros). E dois: fica parecendo aqueles maluco ex-comunista”.


Previous post
Um possível desinteresse por política Uma coisa que demorou pra cair a ficha pós-junho de 2013 é que eu não me interesso por política. Quer dizer, me interesso, mas não como politólogo.
Next post
Uma ansiedade desorientadora Hoje acordei com uma certa ansiedade leve — nada grave. Mas é doido que as vezes nada acontece, fora nossas impressões desconectadas, e ainda que