Uma ansiedade desorientadora
Hoje acordei com uma certa ansiedade leve — nada grave. Mas é doido que as vezes nada acontece, fora nossas impressões desconectadas, e ainda que tenhamos dormido bem, na hora de acordar a gente tá com algo meio embolado, meio opaco que você nem explica direito o enfezamento.
Ontem acho que não teve nada que me preocupou, nada que me fez ter alguma crise de ansiedade ou mesmo preocupação. E ainda assim, se tento lembrar do que pensei ontem, consigo ver o germe em algumas coisas soltas que pensei ontem mas que na hora não me preocupavam em nada.
O doido é isso, olhar para ontem e ver que naquele momento foi só uma coisa pensada mas que retroativamente ganha cara de preocupação-sendo-gerada. Enfim, não é nada grave (uma inseguranças das mais banais), é ligeiro, por isso não me preocupo e me entretenho com seu mecanismo.
É difícil essa atividade de se orientar no pensamento quando a maior parte das informações que temos e que dispomos pra tal orientação é frágil. Ainda mais que nem sempre os circuitos de tristeza, sofrimento, ansiedade, expectativa, alegria e felicidade se comportam linearmente.
O que me faz ao mesmo tempo achar os estóicos antigos-clássicos admiráveis por tentar evitar viver à deriva com as ferramentas que tinham enquanto acho os estóicos contemporâneos (penso em algumas figuras específicas) meio bestas ao ignorarem o corte produzido por Freud.
Eu certamente acho que filosofiia boa é sempre uma espécie de auto-ajuda. O problema é quando essa auto-ajuda se congela e não consegue dimensionar a nossa finitude. É isso que tem de interessante em Sócrates, Sêneca, Montaigne e Espinosa, esse cuidado que passa pela finitude.
E se dar conta dessa experiência é também, me parece, progressivamente, se dar conta que essa finitude não tem simplesmente a imagem de um indivíduo, de uma membrana que tem as bordas com seu exterior bem delimitada.