Sobre críticas vazias feitas na filosofia
A gente precisa pensar em alguns critérios pra poder usar expressões como “visão cartesiana/kantiana” sem que seja um golpe vazio no ar. Acho que há sim uma naturalização, capilarização de certos conceitos/ideias/visões-de-mundo de filósofos que passam a compor o senso comum.
O problema é que muitos usos são ataques a uma imagem clichê que sequer se dá o trabalho de diferenciar o texto da vulgata que se espalha. Sim, na maior parte dos casos é a vulgata que ganha o mundo, mas isso não exime de um exame minucioso dessa diferença. Inclusive exige.
Pois só com esse contraste é que, acredito, se pode efetivamente caracterizar a vulgata que consegue se espalhar e que é o que pode ser eficaz. Por exemplo: falar mal do dualismo cartesiano e achar que a solução é bater no Descartes me parece no mínimo mirar no alvo errado.
O foda mesmo (pois exige um esforço de reconstrução) é conseguir demonstrar efetivamente 1) a persistência de certos traços capilarizados em um determinado grupo, 2) que há nesses traços consistência suficiente pra comporem uma imagem e 3) medir a relação entre vulgata e fonte.