Sobre a troca de legitimidades entre diferentes circuitos intelectuais
não é que seja sempre um problema, nem que haja operação sem risco, mas confesso que acho suspeito algumas alianças entre influencers ~pop e acadêmicos com um pé fora da academia pois parece que um dos efeitos dessa operação é a legitimação de um no campo do outro.
Quando falo em legitimação quero dizer: a voz que é válida em um campo passa a ser considerada e valorizada no campo do outro (e parece uma operação mútua). E parece que os próprios ganhos são assimétricos: cada um dá ao outro o que falta (público para um e autoridade para outro)
É apenas muito cômodo, sobretudo como isso tudo parece ser também insuspeitamente apropriado ao movimento de >mercadorização do saber< (e que não aparece apenas no lado dos que tão no campo de influenceys ‘não-pesquisadores’).
Não é possível que apenas eu fique incomodado com as implicações que há nos inúmeros ‘segue-o-fio’ (o que não significa que toda thread seja assim, veja bem), no que tá implicado nessa infantilização do conhecimento que parecem se multiplicar a cada dia mais.
Claro que isso é em alguma medida uma solução para a >>>complexidade<<< do mundo, para o excesso. Um pouco de informação bem arranjada ajuda demais. E acho que tem muita divulgação científica nesse sentido que se faz se minfantilizar (“A history of philosophy without any gaps”).
Por outro lado eu fico pensando até que ponto essa solução não acaba criando mais problemas lá na frente. Pois de fato ao mesmo tempo que ela >localiza< o saber, parece que seu principal efeito é >localizar< a pessoa que discorre como professor que possui saberes transmissíveis.
No caso do “history of philosophy” (e outros esforços de divulgação científica) acho que a coisa acaba sofrendo desse defeito por estar o tempo inteiro lidando com os problemas inerentes à simplificação. Ou seja, se a coisa é boa é por se assumir essas dificuldades.
O problema dos inúmeros ‘segue-o-fio’ que povoam a tl é que muitos deles parecem passar ao largo completamente da dificuldade de reduzir um conjunto de informações inconsistentes para a comunicação. É tudo apresentado (pra usar uma expressão do @toujourmicelio) como pacotinhos.
O problema é que com essas alianças (ou o desejo das alianças, que passa pela replicação dos procedimentos dos ‘divulgadores pop’) o campo acadêmico que se mete a isso acaba passando por cima desses problemas inerentes à qualquer gesto de divulgação/simplificação, chapando tudo.
Me parece que o ponto realmente interessante do campo acadêmico é justamente essa tentativa de se mover entre as escalas, de variar os paradigmas que iluminam. Isso é algo não apenas às práticas internas, mas também no momento de externalizar as conquistas.
Mas parece que corre-se o risco de se perder isso, de se abrir mão da inconsistência, de apresentar os saberes como ‘fatos’ (talvez como resposta aos inúmeros negacionismos). Ainda assim, não consigo não achar isso tudo meio perigoso.