October 29, 2019

Sobre a relação entre o uso da linguagem e o problema da boa vida

Eu tenho pensado cada vez mais como tem um uso cifrado da linguagem que é essencial pro que eu entendo como boa vida. Uma certa polidez que passa pela não-literalidade, por uma sinceridade que é mais mediata do que imediata. Que depende de uma certa opacidade que ajuda a aliviar.

Eu acho que nada disso é muito generalizável, inclusive eu poderia dizer que em certo sentido é geracional (deixando em suspenso como se determina uma geração, como se delimita, em quanto é temporal, em quanto é espacial e enquanto é também um corte de classe).

É engraçado, pois acho que o DFW, com todas as questões dele, entendia isso. Essa preocupação imensa com a literatura de auto-ajuda sempre me pareceu (de longe) com um interesse pelo valor de uma retórica que consegue realizar de modo efetivo uma autenticidade emulada.

E eu confesso que ultimamente tenho tido pouca paciência pra gramática da espontaneidade, a gramática da autenticidade (nesse nível mais direto e imediato). Acho que isso tira profundidade (e talvez aí seja o juízo de gosto atuando).

O meu ceticismo entra aí. Nessa ideia de que existe uma interioridade que seria exteriorizada de modo simples. A espontaneidade depende disso, da capacidade de algo se exprimir sem limites. Ou melhor, encara a dificuldade de expressão como uma limitação sobre uma subjetividade.


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Um privilégio da periferia na lida filosófica Repetindo essa posição pois faz tempo que não digo: Não acho que faz sentido escolher autores pra amar/odiar. Normal sentir afinidades, trabalhar
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A falta de interesse entre pares na filosofia Ontem conversava com uns amigos sobre um tema horrível, que é a falta de interesse dos pares pelo que fazemos. Claro, há amigos, há pessoas que