Sobre a imagem do fracassado
Eu gosto muito da imagem do “fracasso”, apesar das imagens ressentidas ou ligadas a uma falta que parecem rodar junto com essa ideia. Tem também sempre o risco dessa apologia ao fracasso se tornar apenas uma glorificação às avessas (“eles é que não me entendem/aceitam”).
Eu tenho tentado sentir o fracasso sempre contra isso. Contra essa imputação excessiva de demandas (completamente irreal e que no fim talvez seja uma forma de me reconfortar, visto que seria ‘impossível’ dar conta das demandas) mas também contra essa ideia de glorificação.
Pensando aqui acho que o grande desafio é conseguir não cair nessas duas fases e entrar num estágio do fracasso em que você consegue assumir os problemas para com eles matar de pouco em pouco as suas pretensões e evitar dar espaço para a autoimagem se inflar além do indicado.
Tem uma certa plenitude zen ou do tao que existe no fracasso mas que dá trabalho alcançar e parece ter que ser conquistada toda vez do zero. Tal como um alcóolatra (lembro do Bateson) que nunca deixa de ser alcóolatra (e é esse o primeiro passo).
Somos (sou) antes de qualquer coisa esse movimento do ego que vai se inflando se nada impedir isso e não adianta mentir para si mesmo de que não (eis aí o primeiro deslize de volta pra bebida).