Espantalhos sobre a esfera cultural
Esse espantalho sobre a esfera cultural de que 1) o campo discursivo é dominado por pautas de progressistas/esquerda e que 2) posições conservadoras não encontram eco é difícil combater pois há uma recusa completa desses atores a entrar no jogo do debate.
O que vemos é uma posição que lembra a estratégia da moral escrava que Nietzsche elabora na Genealogia da Moral: que invalida de antemão a possibilidade de disputa devido à sua incapacidade de enfrentar diretamente seus adversários e é por isso que não precisa demonstrar nada.
Uma das consequências parece ser o que enfrentamos diariamente. Alguém pronuncia uma estupidez ou se posiciona de modo imbecil e diante do confronto só resta denunciar completamente a “injustiça” desse ato de você se engajar no argumento dos outros, como se fosse uma violência.
Esse drible é certeiro (não surpreende Nietzsche hesitar e quase tecer elogios à moral escrava) já que muda completamente as regras do jogo (pois o fraco nunca esteve preso a esse jogo) e torna irrelevante qualquer desconstrução ou denúncia de contradições.
Eu não tenho ideia de como isso pega, mas algo me diz que tem a ver com o fato de que a maioria tende a ser passiva no campo discursivo (na internet é assim, com as proporções de pareto entre produtores e consumidores).
Ao se questionar o jogo que deixa a maior parte das pessoas na arquibancada (“elitista!”), esse contradiscurso parece conseguir sensibilizar os que (por inúmeros motivos) se mantinham à distancia mas nem por isso ignoravam o que se passava em campo.
Sem esse perigo de ser derrotado em campo, sem o perigo de ser destruído (já que o próprio jogo foi denunciado, a ideia de vencer por imposição é deslegitimado) qualquer um pode falar sem correr nenhum risco de ser desmascarado. Efetivamente se acaba jogando sem descer pro play.