Sobre a diferença entre amor e desejo
Uma coisa que acho importante na obra platônica, e que acho que fica esquecido hoje fora os círculos estritamente platônicos ou algumas figuras tipo a Carson e o Badiou, é a diferença entre amor e desejo.
Não que seja uma questão de apontar a superioridade de um conceito sobre isso (até porque esses dois conceitos tem uma certa interdependência), mas simplesmente não negar a diferença e reduzir um ao outro me parece importante.
Eu mesmo tenho dificuldade (quando me perguntam no ato) em diferenciar os dois conceitos de maneira sistemática (um dia quem sabe tente por no papel minhas confusões), mas acho que a sua diferença em termos vividos é mais clara que a luz do sol.
Eu diria que a diferença entre amor e desejo, na obra platônica, aparece nas diferenças (e aproximações) do discurso do Lísis e do Sócrates no Fedro. Acho que a Carson entende algo de importante quando dedica tanto tempo a esse diálogo no “Eros, the bittersweet”.
E acho que inclusive a dificuldade de compreender esses conceitos não é contingente, já que não são poucas as vezes que confundimos amor e desejo na vida prática. O problema, me parece, ser acreditar que essa confusão implica numa ausência de diferença.
Por isso que gosto da defesa platônica de que o amor é uma forma de ver mais que nem sempre é compreendida por quem está fora do laço de intimidade. O amor é uma loucura em que o mundo aparece de outra forma a partir do dois. É algo incrível essa chance de viver outra vida.