August 17, 2020

Sobre a auto-refutação de cada dia

Volta e meia eu penso nessa ideia. Acho que é importante. Agora também importante pensar o que significa isso na hora de escrever um texto. Escrever um texto traz o temor de uma certa imortalidade que é completamente irreal e que acho que é o que acaba atravancando a escrita.

Pra mim, pelo menos, que sempre tenho medo de que o que eu vou escrever não vai estar >suficientemente sustentado<, que depois de escrever (e talvez publicar) vou acabar descobrindo algo que vira de ponta a cabeça o que pensei, é importante se lembrar do elenchos socrático.

A refutação virtual não deve servir como temor para o que se escreve pois a verdade do que se escreve, quero acreditar, não estaria em compreender uma situação de modo exaustivo, mas de alguma forma estar engajado no movimento desdobrável de caminhar em direção ao verdadeiro.

Isso significa que as falhas e os limites de um texto não devem ser problemas, mas são justamente os indicativos de um percurso inevitável, de uma refutação que está sempre por vir e que deveria ser incorporado na dinâmica do texto como seu processo de verdade.

O que força, claro, a repensar outros critérios para avaliar um texto que não sejam apenas um temor de eventualmente descobrir uma referência que mude completamente seu ponto de vista (e vai rolar). Acho que aí de fato há um desafio na hora de escrever algo.

Isso inclusive obriga a trazer mais responsabilidade para o que se diz. Como se diante da impossibilidade de prever os caminhos do elenchos, o que sobrasse fosse justamente tentar aceitar de modo pleno o que é que efetivamente está movendo a investigação.

Tudo muito vago aqui, apenas estou tentando juntar algumas ideias a partir de alguns comentários que o @toujourmicelio e a @giftcard_sad fizeram outro dia para me acalmar de algumas neuras.


Previous post
O não-lugar em que a filosofia ocorre Pensando no Mênon e acho que o efeito da filosofia é difícil de mensurar pois ele não ocorre em “algum lugar”. Acho que por mais que os estóicos
Next post
O problema da orientação em Cusk Bem feliz de perceber ao longo do Kudos (último volume da trilogia Outline da Cusk) que as palavras “self” e “truth” aparecem explicitamente como um