Pós-verdade e a alteração do campo de opiniões
As vezes eu me pergunto se os paradigmas como pós-verdade, crise dos especialistas (ou qualquer nome que se circunscreva os eventos) são apenas um efeito de ter se materializado uma rede global em que todos podem exprimir suas opiniões em pé de igualdade.
Antes a falta de conexão limitava a ocasião para aparecerem os desvios de consenso (tornando os desvios meras anomalias). Claro que essa igualdade é ilusória com tudo o que sabemos sobre controle de dados e manipulação do que aparece para nós na internet.
Também suspeito que essa conectividade não conta toda a história. Acho que ela é uma condição mas não razão suficiente pois o tipo de dissenso que aparece tem um caráter específico que suspeito que deve ter a ver com uma perda de referências social anterior a essa expansão.
Mas acho que a corrosão da confiança dificilmente pode ser pensada desconectada das transformações na escala comunicativa num momento em que as formas de integração social pelo trabalho evaporam.
A coleção e o acúmulo de dados, que se fazem em cima de uma série de trabalhos que não são reconhecidos como tal (pelos trabalhadores/usuários e pelas empresas), mas que ainda permitem concentração de capital pelas gigantes do ramo é simultânea à crise de confiança?