January 28, 2019

Picuinhas filosóficas são perda de tempo

Resumindo pois me parece uma boa forma de ver se aprendo (a partir do papo com @toujourmicelio): entrar em picuinhas de autores europeus não faz sentido. Escolher um lado entre hegel e deleuze como se eles batalhassem em campos etéreos e abstratos não faz sentido daqui.

Esse luxo de acreditar que ideias nascem puramente da cabeça dos seus portadores é algo dificílimo de sustentar da periferia do capitalismo. Não é então que eles estão num éden e nós devemos alcança-los. Eles é que estão mais fundos na ilusão de que são autores das suas ideias.

Eu acho que ser francês, ser inglês, ser alemão te dá uma legitimidade e uma confiança inalcançável do lado de cá. É muito estranho. A coisa pra mim uma vez ficou clara num evento que assisti com Markus Gabriel em que ele rejeitou Aristóteles com alguns argumentos.

Não é que ele tenha sido arrogante (e ele pessoalmente é, apesar de muito gentil), mas (como falei com outras pessoas), esse gesto, rápido e sem hesitação apontava para um tipo de legitimidade para pensar que não sei se encontramos aqui (mas de novo, não acho isso fraqueza).

E por isso de certa forma cada vez mais me canso dessas briguinhas de lado a lado b. Na maior parte no fundo tem envolvido ali uma crença de que a disputa de argumentos é completamente pura. Ou talvez eu esteja apenas lendo demais o Paulo Arantes. Pode ser isso também.

Eu tentei rascunhar isso aqui faz um tempinho, mas a coisa estava ainda muito vaga e com pouca concretude (agora ainda tá, mas tá menos): https://thespeculativemonad.wordpress.com/2018/08/23/strange-ebbings-through-the-atlantic/

Volto pra esse tema desde que eu li o Ideias fora do lugar’ pois ali fica bem claro como é estranho receber esse discurso alheio e mesmo assim se ocupar com ele. Explicitar esse ponto me parece fundamental, ainda que as vezes cansativo.

Inclusive eu tenho pensado muito esse tipo de temática (schwarziana-arantiana) junto com essa leitura do Pierre Hadot que me parece riquíssima (eu sei, postei esse texto faz não muito tempo, mas o que fazer com obsessões?): https://becomingintegral.com/2018/05/17/the-irony-of-practice-hypocrisy/


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Uma reavaliação do problema da moral Eu era muito alérgico ao tema da moral quando comecei a ler Nietzsche. Quer dizer, ele foi parte da razão dessa alergia ter sido produzida.
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Dificuldades do estudo filosófico É horrível estar escrevendo algo aí pelo próprio desenvolvimento da coisa você vê que na verdade o ponto que você quer chegar era na verdade outro.