Os efeitos do gueroultianismo na filosofia institucional
[Esse take])(
) é bom. Lembra um pouco as análises do P. Arantes sobre a recepção de Gueroult e o estruturalismo: somente uma análise que abandona a pretensão de comparar verdades filosóficas pode ganhar alguma consistência e produzir análises transmissíveis no nível universitário.my hot take for today is that history of philosophy has a better claim at being a scholarly discipline than does regular analytic philosophy, in that we have something much more like a methodology and are sure that our discipline has a subject matter
— N. Bourbaki, Dr Chad Latino (@d08890) September 25, 2022
A grande novidade do Gueroult e companhia para o Arantes seria entender que como não é possível em última instância determinar quais ideias são mais ou menos verdadeiras, que o que resta é analisar um sistema internamente, pois ao menos pode-se utilizar o texto como referência.
É mais fácil dizer que uma leitura está correta/incorrrta que uma ideia ser verdadeira/falsa. Para a primeira operação basta olhar para um texto. No caso da segunda seria preciso superar 2500 anos de dissenso e ser capaz de hierarquizar (e arbitrariamente?) ideias filosóficas.
De fato eu acredito que fazer história da filosofia facilita demais a construção do campo da filosofia de modo que ela possa responder às demandas e expectativas do mundo da universidade e de seu gerenciamento de recursos (avaliação de candidatos para empregos e bolsas).
Isso não significa que “história da filosofia” é em si mesmo ruim. Pelo contrário, é impressionante quanto avanço há no campo do “comentário do texto” (ou “história da filosofia”) no século XX. Basta ver a riqueza das análises que realmente ajudam a se aproximar de textos.
A questão é que quando a instituição e o campo realizam um deslocamento no objeto de análise da “referência filosofica” para a “referência bibliográfica”, isso torna mais avaliável as análises e as torna mais passíveis de inserção na roda de distribuição de recursos.
O efeito negativo me parece ser que aquelas análises que não são tão facilmente referenciáveis, avaliáveis acabam sendo consideradas menores. O efeito é um empobrecimento do campo pela dificuldade de outras posturas sobreviverem (já que é mais difícil obter recursos).
Isso eu preciso pensar com mais calma, mas não me parece um acaso os colegas analíticos sofrerem tanto com a demanda de responder (muitas vezes a contragosto, por atrapalhá-los) em seus artigos o “estado da arte” a ponto de nunca conseguir avançar as discussões que querem tocar.
Se situar no estado da arte é uma forma de referenciar seu trabalho bibliograficamente, aumentar a capacidade de torná-lo avaliável ao localizá-lo num sistema de bibliografias. Talvez isso ajude a entender um pouco(não totalmente) a sobrevivência da filosofia analítica/anglo.
P.s.: isso não é uma crítica à filosofia analítica (que como qualquer tradição tem seus avanços e recuos), mas a um comentário sobre como institucionalmente ela soube se adaptar e sobreviver às demandas da universidade (o que as vezes atrapalha o desenvolvimento de suas ideias).