O impulso desdogmatizande do socratismo
Eu gosto do curto-circuito que é a ‘sabedoria’ socrática vir da percepção da sua ignorância. Por mais que seja fácil inverter e tornar a ignorância um saber distintivo, se a gente for se ater radicalmente ao dito isso é o que fica bloqueado de antemão. No gods, no masters.
A posição do ‘mas eu sei mais’ é das piores coisas no campo do saber. “Deixa eu te ensinar alguma coisa”, “Vem cá que eu te explico nesse FiO”, “Deixa eu te dar a real”. Acho que não tem nenhuma ‘antivirtude’ que me irrita mais que a condescendência.
E claro, o dogmatismo é atraente. Você aprende e entende uma coisa você se sente impulsionado, se sente alegre. Mas sinto também que é muito fácil cair na crença do saber como distinção, como ponto de demarcação (e acho que isso tanto ‘profissionalmente’ como ‘existencialmente’).
Por isso, de novo, acho o socratismo massa (pelo menos na leitura que faço). Pois ele meio que interrompe isso, resiste à cristalização (ou procura resistir). Inclusive acho que é por entender que há essa tendência no domínio do saber que o socratismo é mais exercício que teoria.