O fetiche da informação na filosofia
Duas coisas que eu acho que são muito difíceis de evitar nas faculdades de humana (e de filosofia) - e falo isso como alguém que está o tempo inteiro deslizando pra esse espaço - é o fetiche da informação. Como se o processo de ensino/transmissão se reduzisse a isso.
Acho que não. Não vou dizer que não é importante. Acho que é importante sim a transmissão, a coleta, o acúmulo de “conteúdo”. Mas se isso não vier mediado pela capacidade de estruturar esse conteúdo a coisa é completamente vazia. E isso é o mais difícil, pois não tem atalho.
A preocupação com o conteúdo faz com que a gente sempre corra o risco de se tornar a caricatura do discurso escrito imaginado por Platão no Fedro: Pra qualquer pergunta você só consegue responder sempre a mesma coisa.
E é difícil, ainda mais em escala, conseguir elaborar a capacidade de estruturação, de conexão das causas e da construção de um sentido minimamente estável (que não seja derrubado pelo primeiro sopro do lobo mau). Acho que é por isso, também, que tenho me dedicado ao Platão.
Lá, para além do conteúdo (e nesse sentido talvez se possa agregar ele aos anti-filósofos, apesar de ser, junto com Espinosa e Hegel - para mim - os maiores apologistas da filosofia na história) tem um cuidado extremo em não deixar os conceito se enraizarem em meros nomes.
A validade das coisas é sempre conquistada, é sempre uma prova e os resultados (como se vê na diferença de tratamento da teoria das formas se compararmos o Fédon com o Parmênides) é sempre contingente e relativo ao problema tratado naquele momento.