June 30, 2020

O fascínio que houve com o realismo especulativo’

De novo por causa da defesa que vi ontem, fiquei me lembrando dos dramas do realismo especulativo (eu mesmo ouvi falar já muito atrasado). Muita coisa interessante ali, que poderia ter sido gestada ali mas que acabou morrendo até antes de chegar direito no Brasil.

Alguns problemas (não exaustivo) que acho que rolaram:

  1. trator-Harman. O mais estúpido mais o que fez mais sucesso. O fato desse homem ter transformado a coisa toda numa >marca< certamente deve ter sido responsável pela coisa virar um fenômeno repulsor e não mais atrator.

  2. Acho que rolava demais um fetiche de juventude de estar redescobrindo a roda. Acho isso massa, ainda mais que isso não era feito necessariamente negando o passado. Mas rapidamente a coisa dogmatizou de uma forma que revelava as piores faces do framework anglo de origem.

  3. É como se o que interessasse era fazer uma tabela nutricional dos movimentos (expressão e exemplo subsequente do César Kiraly, na banca do Ádamo ontem), das posições. 30% racionalista, 20% empirista, 5% teológico e 25% de carboidratos), mais do que explorar as posições.

  4. É algo divertido sim, e pode ter seu papel. Mas acho que de novo, isso revelou um pouco a fonte” de boa parte da galera que transitava nesses meios. Uma formação no contexto da filosofia anglo-saxônica dominante que de fato adora ficar pensando em mil nomes pra cada posição.

  5. O pessoal escrevia meio mal? Esse é um ponto menor, mas o Meillassoux acho que dos quatro originais’ era o único que escrevia bem — está aí um dos méritos de ser francês. O Brassier é um horror escrevendo (ele melhorou, mas o Nihil Unbound é sofrível), o I. H. Grant idem.

  6. Por fim, acho que tem também um caráter de narcisismo coletivo intenso. A sensação de estarem numa missão” de estar revertendo tudo. Acho que isso deixa um pouco uma coisa que meio que cega. Associando isso a um certo gosto pelo exótico só piora.

  7. Pois não basta estar retornando um campo de questões, é importante que se retorne com autores altamente obscuros e/ou marginalizados da academia (sendo acadêmicos ou não). Uma coisa meio galera indie’ que curte músicas quanto mais diferente é? Enfim, um saquinho isso, né?


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