June 23, 2021

O espelho narcísico de Barthes

Acho que o tanto de gosto do Barthes (independente de eu concordar ou não) trai umas características que não gosto tanto de identificar em mim. Tem um tipo de narcisismo que acontece na obra dele que acho sedutor demais (uma certa figura do artista-pensador, como Deleuze).

Não é que eu ache ele problemático, mas eu não gosto de encontrar em mim esses traços narcisistas (que eu sei que de alguma forma estão ali e que não deixam de me incomodar). Nem sequer consigo explicar direito, mas é algo que acho até improdutivo (pra mim).

É um traço que acho que também indica um enraizamento em uma cultura romântica individualista (usaria burguês se não fosse cringe) que em alguma medida aspiro mas que não me resolvi completamente por questões existenciais-afetivas e políticas.

Pois eu acho que também todo esse individualismo que tá presente nesse narcisismo é uma tentação à autoconfiança desmedida e uma certa cegueira sobre o outro, sobre aqueles com quem a gente compõem (e também ao fato de que ninguém é uma ilha, sobretudo fazendo coisas).

Por outro lado, o que eu também me identifico no Barthes (gosto de acreditar) é que ele também parece temer isso. Ele não parece assumir isso de maneira confortável. Acho que toda a obra dele, seu caráter volúvel, expressa de alguma forma esse desejo de estar junto.

Acho que talvez eu identifique no Barthes (ou queira projetar nele) essa frustração com parte de mim desejar ser algo que acho um tanto abominável. Mas também o empenho para tentar ser fiel ao movimento oposto que aparece da aversão a esse narcisismo que nunca some por completo.

Rindo que essa thread é basicamente a comprovação do meu temor.


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