O conceito de unidade como bicho-pão da filosofia continental
Eu sinto que o conceito de unidade/uno virou uma espécie de bicho-papão de certos grupos da filosofia continental. O problema não é apontar pra mim as implicações políticas e excludentes que acabam aparecendo junto a esse conceito em seus usos mais comuns.
Acho que um trabalho como o Diferença e Repetição (e em certa medida o Mil Platôs) acaba mostrando as insuficiências e consequências de uma certa imagem tradicional do uno que se pensa junto como um primado da identidade.
Mas será possível abdicar completamente de qualquer ideia de unidade? Acho interessante a noção de síntese justamente por conta disso, uma unidade a posteriori, contingente, provisória e que é efeito de uma certa consistência (penso em D&G).
Eu gosto do trabalho de cosmopolítica da Stengers (e nisso estou influenciado pela @alyne_costa) pois trata-se antes de uma convergência de divergências (sistema de heterogênese, pra trazer deleuze de novo) que se constrói na prática sem tomar aquilo como ponto final.
Mesmo a noção de multiplicidade que percorre a obra toda do Deleuze é um esforço de repensar que tipo de unidade é não apenas possível como desejável.
Sabemos o que é a multiplicidade sem qualquer franja de unidade. É o Crátilo (ou, o primeiro pós-moderno).