O caráter inebriante do verdadeiro
Quando vejo essas discussões sobre fake news, sobre mentiras, sobre as pessoas estarem sendo “enganadas” por redes de whatsapp etc eu sempre lembro como a relação com o verdadeiro tem algo de inebriante. Acho que independente do conteúdo ser “verdadeiro”, a relação é forte.
O que quero dizer com isso não é nada muito diferente do que trocentas pessoas já falaram de outras formas (Platão, Espinosa, Nietzsche), mas tem algo bem viciante no momento quando acreditamos estar tocando em algo real/verdadeiro/vital.
Mas longe de achar que a solução é negar esse tipo de relação, ainda mais que mesmo os “não enganados” também vão entreter relações desse tipo (só pensar, por exemplo, em como relações de amizade sempre tocam no problema do “ser verdadeiro”/“ser honesto” — seja lá como for).
O que me parece mais interessante (mas mais difícil) é aceitar que o fato de que esse tipo de relação com o verdadeiro existe implica, por contra, o aparecimento do falso, do duvidoso. Enfim, toda a dinâmica de Platão contra a sofística acredito que passa por aí.
Se a verdade é indice de si mesma e do falso (como diz o Espinosa), então nada no falso nos indicará que ele é falso. A desconstrução, o combate e o ocultamento do falso não irá ajudar em nada POR SI SÓ (claro que é importante, mas falta algo).