September 7, 2019

O aspecto construtivo da história da filosofia

Essa série do Reza Negarestani (que infelizmente ele largou de mão) era muito boa pois abria espaço para pensar a história da filosofia de modo não-moralista: https://toyphilosophy.com/2018/02/02/toy-philosophy-universes-part-1/

A gente pode conceber os filósofos fazendo sempre modelos, ou seja, tentando dar conta da realidade sem que eles evidentemente consigam dar conta de todos os elementos, mas sempre destacando alguns, deixando outros de lado (seja deixando de lado conscientemente ou não).

Se a gente pensa assim em vários momentos a crítica a um certo filósofo pode ser não um descarte, mas uma tentativa de ampliar e/ou alterar o modelo inicial. Botar outras coisas em destaque, trazer pra dentro novos problemas, novas dinâmicas que tornam necessários novas soluções.

Um exemplo: Kant certamente escreveu um dos livros mais interessantes da história da filosofia, a Crítica da Razão Pura. Mas ainda que esse livro seja genial, tem algo que sempre aparece como um problema, ou seja, a naturalidade das categorias do entendimento. É esquisito.

É claro que o Kant procura justificar brevemente a existência dessas categorias (e a Beatrice Longuenesse, aparentemente, escava isso mais a fundo), mas é inegável que isso incomodou muita gente. A arbitrariedade do número, a maneira como elas se dividem em quatro trios etc.

Acho que tem muitas formas de reagir” a isso. Pode-se acusá-lo de imbecil. Ou pode-se fazer como Schelling, Hegel, Deleuze etc e tentar pensar a própria gênese das categorias. Não precisa largar os elementos férteis de Kant, mas apenas ampliar o modelo a partir do novo problema.


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