O aprendizado da escrita
Isso que o Moysés falou é algo que penso demais. As vezes inclusive acho que escrever “tese” é tipo “tirar a carteira”. Você ainda não aprendeu a dirigir direito (falta uma boa dose de prática e experiência acumulada), mas você domina abstratamente um conjunto de protocolos.
Eu não sei se foi para melhor ou para pior (do meu ponto de vista para melhor), mas acho que nunca mais quero escrever na minha vida da maneira que escrevi na tese.
Por outro lado acho que pra mim foi importante. Eu tinha muitas “questães” com escrever (talvez uma relação mistificada demais pelo meu apreço por literatura e ensaísmo) e a tese me deu um caminho prático (e irrefletido) de como escrever sem pensar demais nessas nóias.
O problema eu acho é meio que naturalizar esses protocolos, esses cacoetes. Eles são uma boa muleta até você só conseguir escrever nesses termos. E agora ao menos quero acreditar que o que tenho feito vai cada vez mais se distanciando daquela prática (sem renegá-la totalmente).
Pensando aqui, acho que é um mérito (um dos poucos méritos) naturalizar a escrita mediana/ruim. Acho que uma cultura literária demais emana um tipo de elitismo (a capacidade de reconhecer certos códigos implícito, de dominar as normas de bom gosto) que gera muita ansiedade.
Eu até acho que o estilo é um bom problema, que deve-se de alguma forma ir em direção a algo nessa ordem. Mas em ambientes em que o caráter literário é forte acho que a coisa toda do jeito que a academia é estruturada acaba muitas vezes funcionando como um filtro esquisito.
Escrever já é algo difícil, complicado. Você ainda por cima precisa ser um excelente escritor, dominar recursos que requerem tempo, experiência (e geralmente algum problema que te faça escrever assim ou assado) sem ter tido nenhum preparo para isso? Me parece injusto.
O modelo do artigo e dos textos acadêmicos — sobretudo aqueles chatos, sobretudo os “caretas” —, por mais problemático que sejam se forem tomado como todo o horizonte da escrita, ao menos eles apresentam um caminho factível para o não-experiente.