Sobre o impacto da filosofia no mundo
Essa formulação da pergunta é engraçada pois pra mim a coisa parece de fato estar trocado. O esquisito pra mim foi sempre que eu tomo como inequívoco que a filosofia produz efeitos em quem se envolve com ela mas esses efeitos são (pra mim) difíceis de capturar.
Todos os exemplos que costuma-se dar eu acho que nunca capturam muito bem a especificidade dessa atividade. Ou ao menos era isso um dos grandes problemas da minha tese: a ideia de que a filosofia muda vidas, mas uma dificuldade em entender o “como”.
E além disso eu acho que o “como” nunca tem a ver “apenas” com o conteúdo (ou ao menos com o conteúdo intencionado pelo autor). Fosse esse o caso eu acho que a atividade se resumiria a encontrar os juízos “certos” feitos pelos filósofos. Não acho que é exatamente isso que rola.
Tentando exprimir essa minha confusão em exemplos. A obra do Espinosa (mas pode ser a de Kant, a de Deleuze) me toca. Ela parece me dizer algo sem que necessariamente eu concorde com a forma como ele sistematiza a realidade ou que compre suas categorias.
Acho que de alguma forma eu me pergunto (e não é uma pergunta que eu ache que se responda diretamente): como que isso pode ter um valor, pode me afetar, pode mexer comigo mesmo nos momentos em que eu discordo absolutamente do que é discutido ou defendido por um filósofo?