April 22, 2020

O achatamento de uma história da filosofia ocidental”

Acho que tem que tomar cuidado com o achatamento da história da filosofia ocidental numa pasta homogênea. Não que não hajam características comuns que, por exemplo, permitam diferenciar o pensamento ocidental do pensamento chinês, que seja possível descrever elementos genéricos.

Mas as vezes acho que isso é feito apressadamente e não aguentaria uma investigação mais aprofundada. Também é preciso tomar muito cuidado se sempre os resultados acabam sendo moralmente orientados (“pensamento x > pensamento y” que é a forma que aparece frequente mente).

Também acho meio louco que curiosamente >o outro< acaba sempre sendo a representação consumada dos desejos reprimidos na filosofia ocidental, como se as margens do ocidente fossem sempre encontrar sua forma emancipada numa cultura que, por sua vez, é marginalizada pelo ocidente.

Quando não se faz reduções grotescas (algo que acontece com frequência), acho que há diferenças, há semelhanças, mas acima de tudo, é preciso se perguntar, também, o que se procura quando se realiza esse jogo de contrastes? O que se ganha? Cada operação tem um sentido próprio.

Dito isso, acho que falta um pouco esse jogo de escala nos gestos. Que se salta rapidamente de alguns exemplos, ocasiões, para uma condenação universal do >pensamento ocidental< (que é uma coisa que, por outro lado, também não se sustenta com tanta força se olhar direito).

Inclusive, o que a disciplina da história da filosofia - em suas vertentes mais interessantes (e o Peter Adamson e seu podcast a history of philosophy without any gaps é um excelente representante disso no campo da divulgação) - faz é justamente problematizar homogenizações.


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