July 6, 2020

O acadêmico hipster acumulador

Um tipo acadêmico que me incomoda muito é aquele que une a sanha acumuladora com um hipsterismo e um moralismo. Ninguém pode abrir a boca (moralismo) sem ter lido todas as referências (acumulador) que curiosamente são as mais marginais que eu’ domino (hipsterismo).”

Eu até sou um acumulador, mas tento dizer pra mim mesmo que isso é uma patologia minha que não deve ser cobrada de todos (nem sempre consigo, claro — fico sempre na dúvida sobre as ocasiões em que não sei dizer se sou eu que tou exigindo ou é a matéria trabalhada que exige refs).

Por ex: acho ok exigir que alguém que vá falar >profissionalmente< da leitura que Deleuze faz de Nietzsche ou Kant tenha se dado o trabalho de ao menos ler Nietzsche ou Kant (sem precisar ser especialista). Mas não parece razoável exigir que se conheça toda filosofia alemã para isso.

Outra coisa que acho fundamental mas por implicações éticas: se alguém fala mal de algum autor e você compra isso sem ir no autor, sem avaliar você mesmo o mérito. Você comprar essa briga, propagar a crítica à distância (tendo tido pouco ou nenhum contato) acho bem complicado.

É diferente de ler uma crítica, absorvê-la e achar que aquilo não é para você e não lidar com aquele autor. Agora pegar essa crítica (e outras) e tornar em cavalo de guerra sem que você se dê o trabalho de ir no autor criticado me parece complicado.


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História da filosofia e seus heretismos A história da filosofia acaba virando uma caça pelos momentos heréticos, pelas passagens condenáveis. Eu suspeito que isso no fundo tem algo de ser
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Um caminho para estudar a relação entre Deleuze e Badiou Como isso não vai acontecer tão cedo vou desovar aqui uma ideia (que tava matutando com o @gtupinamba ) e que alguma boa alma pode pesquisar: