October 4, 2020

Filosofia e utopia

Pensando aqui que o problema da utopia é fundamental pra pensar as questões de mapeamento cognitivo, de orientação, pois a utopia em certo sentido parece responder ao desejo de quem quer mapear a realidade para navegar nela. Pra isso o Fredric Jameson deve ajudar.

Aliás, nesse sentido inclusive a utopia parece uma espécie de ideia regulativa kantiana, com a diferença que ela possui também um componente do desejo que talvez não esteja tão visível nas ideias transcendentais kantianas.

Se bem que, na ausência das intuições da experiência pras ideias regulativas, talvez justamente o desejo seja o que explique que algumas sejam tomadas como reguladoras em detrimento de outras (já que para serem válidas enquanto ideias bastaria serem coerentes em si).

Taí o que já tava querendo fazer, ler sobre utopias e seu papel cognitivo me permite começar a mapear o papel do desejo na navegação. Por outro lado pensando aqui que Karatani pode me ajudar com algumas dessas questões sobre ideias regulativas. Enfim, anioso com semestre que vem.

E enfim, tem algo que não tá ali, mas acho que o drama da utopia é ela ser multi-escalar, ou ter que ser. Agora o que me pergunto, a partir de alguns pontos do texto da Patricia Reed sobre navegar em horizonte amplo é o que significa uma ideia (a utopia) não reduzir a uma escala.

A utopia, como ponto em que o desejo se projeta sobre o ambiente não navegado ainda do mapa, é que ela precisa de alguma forma ser distribuitiva, precisa conseguir ser pensada de uma forma equívoca, mas que aninha (a Reed usa nestted”) escalas plurais.

Me pergunto também se as imagens problemáticas e difíceis de concretizar das utopias não tende a ser também uma espécie de síntese resolutiva dos nossos desejos inconsistentes (e que tem a ver com os mundos equivocos que habitamos). Nesse sentido ela chaparia as inconsistências?

Como se a sua forma difícil tivesse a ver como uma operação de síntese que é em si impossível? Daí seu caráter pouco real? Enfim, só especulando aqui de modo inconsequente mesmo (e anotando para não esquecer depois).

Pensando aqui (na rasteira de um ensaio que devo ler, o sobre a linguagem em geral e a linguagem humana) que o final do ensaio sobre Leskov, seu elogio do conteúdo místico não teria a ver com atalhar a inconsistência de escalas a partir de um enquadramento que totalize o mundo.

O que me fez lembrar do livro do Toscano (que não li), sobre fanatismo. O fanatismo como uma espécie de tentativa de resolver na marra (e com muitos efeitos) o problema de desorientação. Claro, preciso ler, mas pensando que a utopia também se conecta com esses problemas.


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